CANAÃ DOS CARAJÁS (PA) (Reuters) - Enquanto enfrenta excedente de minério que inundou o mercado internacional nos últimos anos, a Vale (SA:VALE5) inaugura neste sábado o maior projeto de sua história na Serra Sul de Carajás, no Pará, que encerra um ciclo de grandes investimentos e vai ajudar a empresa a reduzir custos para fazer frente às suas principais rivais.
Batizado de Complexo S11D Eliezer Batista, em homenagem ao seu ex-presidente, a nova menina dos olhos da Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, vai acrescentar 75 milhões de toneladas de minério de capacidade de produção líquida ao seu Sistema Norte, quinze anos após os primeiros estudos de viabilidade técnica e econômica. A capacidade total líquida será atingida em quatro anos.
O projeto, que tem vida útil estimada de 30 anos, já está quase totalmente pronto para enviar ao exterior sua primeira carga comercial em janeiro.
Do alto do mirante da gigantesca mina, que por enquanto mais parece um enorme campo plano, aberto no meio da Floresta Nacional de Carajás, o diretor de Operação de Ferrosos Serra Sul da companhia, Josimar Pires, fala com entusiasmo dos números grandiosos do projeto a jornalistas convidados pela mineradora.
"Somente a mina ficou aqui dentro da floresta", disse Pires, enquanto aponta para baixo explicando cada uma das máquinas visíveis e como o minério seria extraído e carregado por elas aos seus clientes, a maioria deles do outro lado do mundo.
A usina de beneficiamento, 400 metros abaixo do nível da mina, foi construída fora da floresta, para minimizar os impactos ambientais, e recebe a commodity por correias transportadoras que somam 68 km, uma espécie de "espinha dorsal" que substitui cerca de 100 caminhões de grande porte, que seriam necessários para transportar a produção.
Após o beneficiamento, para que a commodity chegue aos clientes, em grande parte siderúrgicas asiáticas, o minério de ferro do S11D é transportado por ferrovia até o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (TMPM), em São Luís (MA).
Com a inauguração do projeto, a Vale planeja aumentar a atual produção da região Norte para 230 milhões de toneladas até 2020, ante os cerca de 155 milhões previstos para 2016.
Mas o grande orgulho do projeto vai muito além da quantidade de minério que será produzida. Pires defende que a empresa está extremamente satisfeita com os métodos implementados para reduzir impactos ao meio ambiente e ao custo do projeto.
A usina de beneficiamento irá separar o minério de ferro a seco, evitando a necessidade de captação de água no local e a construção de uma barragem de rejeitos. Outros métodos também permitirão economizar energia, mão de obra e combustíveis.
Além disso, apenas cerca de 4 por cento dos 412 mil hectares da Floresta Nacional de Carajás terão sofrido interferência pelas atividades de mineração, mesmo depois da implantação do S11D, segundo afirmou Pires, destacando que a empresa se instalou na região há 30 anos.
"Isso só é possível graças à qualidade do minério que temos aqui", disse Pires. Com qualidade superior às minas da empresa no Sistema Sul e Sudeste, em Minas Gerais, a empresa terá mais flexibilidade para misturá-lo em portos no exterior, trazendo melhoria na precificação do produto final da empresa.
A estimativa é que o custo do minério de S11D entregue no terminal portuário da Vale em São Luis (MA) fique em 7,7 dólares por tonelada, 41 por cento menor que o custo médio da Vale atual.
Do alto da planta também já não é mais possível ver uma grande quantidade de trabalhadores, que chegaram a somar cerca de 40 mil no pico das obras, em 2015, incluindo mina, usina, ramal, ferrovia e porto.
Na fase de operação da mina e da usina do S11D, quando o ramp-up estiver concluído, a previsão é que haja 2,7 mil empregos diretos e, pelo menos, outros 10 mil indiretos.
O complexo, segundo a Vale, contou com investimentos totais de 14,3 bilhões de dólares, sendo 6,4 bilhões de dólares aplicados na implantação da mina e usina de beneficiamento.
Outros 7,9 bilhões de dólares são referentes à construção de um ramal ferroviário de 101 quilômetros, à expansão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e à ampliação do terminal portuário.