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Por que a empresa chinesa Huawei Technologies é controversa?

Publicado 06.12.2018, 16:02
Atualizado 06.12.2018, 16:05
© Reuters. Agentes de segurança vigiam portão do complexo do escritório da Huawei em Pequim

Por Jonathan Weber

(Reuters) - A prisão no Canadá de Meng Wanzhou, vice-presidente financeira da chinesa Huawei Technologies e filha do presidente-executivo e fundador da empresa, sacudiu a comunidade empresarial mundial nesta quinta-feira e gerou temores de que a trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China pode chegar a um fim rápido.

A prisão de Meng ocorreu por ordem das autoridades dos Estados Unidos e está ligada a uma investigação sobre supostas violações das sanções comerciais dos EUA, disse à Reuters uma pessoa a par do assunto. O Ministério das Relações Exteriores da China disse que nem os Estados Unidos nem o Canadá explicaram as razões da prisão.

O que é a Huawei?

A Huawei, fundada em 1987 pelo ex-oficial militar Ren Zhengfei, é a maior fornecedora mundial de equipamentos de rede de telecomunicações e a segunda maior fabricante de smartphones do mundo, com uma receita de cerca de 92 bilhões de dólares no ano passado. Ao contrário de outras grandes empresas chinesas de tecnologia, ela faz grande parte de seus negócios com o exterior e é líder de mercado em muitos países da Europa, Ásia e África.

A empresa, que emprega 180 mil pessoas, permanece de capital fechado e se descreve como de propriedade dos empregados, embora sua estrutura de propriedade seja desconhecida.

Como a empresa se tornou tão bem sucedida?

A Huawei foi uma fornecedora pioneira de equipamentos de telecomunicações em um momento em que a China estava investindo muito para atualizar suas redes, importando grande parte de seus equipamentos. A Huawei começou a competir internacionalmente nos anos 90 e era conhecida por reduzir drasticamente os preços em relação aos rivais.

Os concorrentes classificaram a Huawei como uma fornecedora de equipamentos copiados, e empresas como a Cisco Systems e a Motorola entraram com processos por supostos roubos de segredos comerciais.

Mas a Huawei investiu pesado em pesquisa e desenvolvimento e agora é considerada uma líder global em tecnologias de rede de telecomunicações e smartphones de ponta. Em contraste, seus principais rivais ocidentais, Nokia e Ericsson, têm enfrentado problemas financeiros nos últimos anos.

A Huawei hoje continua expandindo para novas áreas, incluindo desenvolvimento de chips, inteligência artificial e computação em nuvem.

Por que alguns governos baniram os equipamentos da Huawei?

Agências de inteligência dos EUA alegam que a Huawei está ligada ao governo da China e que seus equipamentos podem ter sido projetados para permitir o acesso de espiões do governo chinês. Nenhuma evidência foi apresentada publicamente e a empresa negou repetidamente as alegações.

Mas as suspeitas persistem. A preocupação agora se concentra na implantação de redes móveis de quinta geração (5G), onde a Huawei está na vanguarda. Uma nova lei na China, exigindo que qualquer empresa doméstica ajude o governo quando solicitado, também alimentou preocupação.

O governo norte-americano tomou uma série de medidas para impedir o acesso da empresa aos mercados dos EUA, incluindo a proibição de compras governamentais de equipamento da Huawei e a negação de ajuda do governo a qualquer operadora que use equipamentos da Huawei.

As principais operadoras norte-americanas Verizon Communications e AT&T romperam acordos para distribuir os smartphones Huawei no início deste ano.

A maioria dos países, até mesmo aliados próximos dos EUA, como Canadá, Reino Unido e Alemanha, não fizeram nenhum movimento contra a Huawei, alegando que eles têm procedimentos suficientes para testar a segurança dos equipamentos. Mas a Austrália e a Nova Zelândia proibiram recentemente a Huawei de construir redes 5G e há indícios de que outros países, incluindo a Alemanha, estão revisitando a questão.

A prisão de Meng Wanzhou está relacionada a essas preocupações de segurança?

Autoridades norte-americanas não revelaram as circunstâncias da prisão de Meng, mas uma fonte a par do assunto disse à Reuters que a prisão está relacionada a violações das sanções comerciais dos Estados Unidos. A Reuters publicou uma investigação há quase seis anos sobre os laços da executiva e da Huawei com uma empresa chamada Skycom, que tentou vender equipamentos de informática da Hewlett-Packard para uma operadora de telefonia móvel iraniana, em contravenção a essas sanções.

Alguma outra empresa chinesa também foi acusada de violação das sanções contra o Irã?

A ZTE, rival menor da Huawei, se declarou culpada no ano passado por conspirar para burlar o embargo ao vender equipamentos norte-americanos para o Irã. No início deste ano, o Departamento de Comércio norte-americano disse que a ZTE violou o acordo e proibiu a empresa de comprar qualquer componente dos EUA - uma medida que interrompeu muitas operações da ZTE.

Um novo acordo foi alcançado e a proibição foi suspensa a pedido do presidente dos EUA, Donald Trump, uma suposta concessão ao presidente chinês, Xi Jinping, que surpreendeu e enfureceu outros no governo dos EUA.

Essas questões estão relacionadas à guerra comercial EUA-China?

As investigações de sanções precederam em muito a guerra comercial. Mas o momento da prisão de Meng complica o cenário, no momento em que os presidentes Trump e Xi chegaram a uma trégua temporária da guerra comercial. Os mercados financeiros recuaram com as notícias da detenção, por temerem que isso possa prejudicar a trégua. No entanto, não há provas de que seja uma provocação deliberada dos EUA, e não apenas uma infeliz coincidência.

O que pode acontecer com a Huawei agora?

Proibir a empresa de comprar componentes nos EUA, como ocorreu temporariamente com a ZTE, seria devastador para a Huawei, mas não há razão no momento sugerir que isso possa acontecer. Se o caso levar os principais países europeus a se voltar contra a empresa, isso poderá causar impacto de longo prazo em seu crescimento e influência.

© Reuters. Agentes de segurança vigiam portão do complexo do escritório da Huawei em Pequim

Ainda assim, o status da Huawei como líder da indústria de alta tecnologia da China, num momento em que o país está correndo para alcançar os EUA em áreas complexas como o desenvolvimento de chips, significa que certamente a empresa continuará sendo uma força poderosa nos próximos anos.

(Por Jonathan Weber)((Tradução Redação São Paulo; +55 11 56447509))REUTERS TH RBS

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