Por Kate Abnett e Tim Cocks
BRUXELAS/JOHANESBURGO (Reuters) - A China incluiu conversas comerciais na agenda proposta para a cúpula da COP29, segundo um documento da ONU, aumentando a perspectiva de que a questão poderia atrapalhar o início das negociações climáticas globais.
O rascunho da agenda para a cúpula climática deste ano, publicado nesta sexta-feira, inclui uma proposta chinesa, que havia sido publicada anteriormente pela Reuters, para negociações sobre impostos de fronteiras sobre carbono e outras "medidas comerciais restritivas" que, segundo Pequim, prejudicam os países em desenvolvimento.
Os delegados da conferência precisam adotar a agenda da cúpula por consenso como sua primeira tarefa quando as negociações da COP29 começarem em 11 de novembro em Baku, no Azerbaijão.
Mas alguns diplomatas disseram que a União Europeia provavelmente se oporá à proposta chinesa.
A não aprovação da agenda poderia atrasar o começo das negociações -- reduzindo o tempo restante para a tarefa principal de aprovar potencialmente centenas de bilhões de dólares em novos financiamentos para lidar com as mudanças climáticas.
A China apresentou a proposta de negociações comerciais em nome do grupo Basic, que também inclui Brasil, Índia e África do Sul.
"Falaremos sobre isso, incansavelmente", disse o ministro do Meio Ambiente da África do Sul, Dion George, à Reuters.
George disse que os países do Basic acreditam que as negociações da ONU são o fórum apropriado para discutir políticas comerciais relacionadas ao clima, incluindo a taxa de fronteira de carbono da UE.
Os países do Basic têm sido críticos ferrenhos da política de fronteira de carbono da UE, que a partir de 2026 imporá taxas sobre as importações de produtos com alto teor de carbono, incluindo aço e cimento.
"Estamos descontentes com isso e não achamos que seja bom para nossa economia", disse George, acrescentando que África do Sul e China estão tendo "conversas intensas" com a UE.
Um porta-voz da Comissão Europeia não quis comentar.
A UE já havia dito anteriormente que disputas sobre comércio deveriam ser tratadas na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Um negociador europeu disse à Reuters que "sempre foi proibido" discutir medidas comerciais, como taxas de carbono nas fronteiras, nas cúpulas climáticas da ONU.
O negociador expressou preocupação com o fato de que a proposta do Basic pretende impedir que as discussões na COP29 sobre o corte das emissões de CO2 e o financiamento avancem.
Em 2023, uma disputa sobre a agenda de uma rodada de negociações climáticas da ONU não foi resolvida por mais de uma semana, o que efetivamente matou o progresso das negociações.
(Reportagem de Kate Abnett, em Bruxelas, e Tim Cocks, em Johanesburgo)