Por Olga Sichkar
MOSCOU (Reuters) - Um balé do Bolshoi Theatre sobre a vida do dançarino russo Rudolf Nureyev, que deve estrear neste sábado, contém cenas de um romance gay, testando a tolerância do Kremlin para o que chama de "propaganda homossexual".
A produção deveria ter estreada em julho, mas foi cancelada de última hora, com a gerência do teatro afirmando não estar pronta. Na época, a agência de notícias estatal russa Tass citou uma fonte próxima ao Ministério da Cultura dizendo que haviam preocupações sobre os temas gays do balé.
Um mês mais tarde, o diretor da produção, Kirill Serebrennikov, foi acusado de desvio de dinheiro público. Sob prisão domiciliar, ele não pôde participar dos ensaios. Apoiadores de Serebrennikov alegam que ele estava sendo punido por desafiar o establishment, e que sua produção seria enfraquecida.
Considerado um dos dançarinos masculinos mais talentosos do balé e um coreógrafo privilegiado, Nureyev morreu em 1993 de Aids.
No ensaio aberto à imprensa na sexta-feira, a equipe do Bolshoi afirmou que a produção passou apenas por pequenas mudanças técnicas desde que Serebrennikov foi substituído. Serebrennikov não comentou publicamente.
Em uma cena, com os dançarinos interpretando Nureyev e seu amante, o dançarino dinamarquês Erik Bruhn realiza uma dança tocante e sensual destinada a representar os dois se apaixonando.
Em outra cena do balé, coreografada por Yuri Posokhov, Nureyev aparece visitando um evento drag em Paris, logo após ter chegado lá depois de fugir da União Soviética.
Durante o ensaio de sexta-feira, uma enorme imagem de um Nureyev completamente nu apareceu brevemente como pano de fundo da performance. Quando reportagens vazaram na mídia russa essa imagem mais cedo no ano, ela causou protestos entre conservadores.
O balé como realizado na sexta-feira também mostra um personagem lendo arquivos oficiais de informantes sobre Nureyev, alegando que em Paris ele passava seu tempo com "pessoas duvidosas, alguns pederastas entre os quais estavam claramente representantes de agências de inteligência do Ocidente."
A palavra "pederasta" é comumente usada na Rússia como termo pejorativo para homossexuais.
Autoridades do governo russo ainda precisam dizer o que acham da produção.
Em 2013, a Rússia adotou uma lei proibindo a difusão de "propaganda de relações sexuais não tradicionais" para menores. O Kremlin negou ser discriminatório, mas governos do Ocidente e grupos de direitos afirmam que ele consagra o preconceito contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
Os produtores do balé deram classificação para maiores de 18 anos. Perguntada pela Reuters no sábado o porquê, uma porta-voz do Bolshoi enviou a pergunta à Vladimir Urin, diretor-geral do teatro. Ele não respondeu imediatamente ao pedido de comentário.
Falando com repórteres sobre o balé na sexta-feira, Urin afirmou: "A produção levanta argumentos, apreciação de algumas pessoas, rejeição por outras. Mas isso é arte. Temos produções que dão origem a argumentos." OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20171209T175120+0000