BRUXELAS (Reuters) - A Bélgica entregou um dente, os únicos restos conhecidos do herói da independência congolesa Patrice Lumumba, para sua família durante uma cerimônia em Bruxelas nesta segunda-feira.
Lumumba tornou-se o primeiro premiê democraticamente eleito da República Democrática do Congo (RDC) após a independência da Bélgica em 1960, mas alarmou o Ocidente com abertura a Moscou no auge da Guerra Fria.
O governo durou apenas três meses antes de ele ser derrubado e assassinado por um pelotão de fuzilamento. Seus apoiadores e alguns historiadores acusam a CIA de ter ordenado a morte. O corpo dele nunca foi encontrado.
Uma autoridade belga entregou uma caixa azul contendo o dente a membros de sua família no Palácio Egmont, no centro de Bruxelas, nesta segunda-feira.
"Não é normal que os belgas tenham guardado os restos mortais de um dos fundadores da nação congolesa por seis décadas", disse o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, em discurso.
De Croo afirmou que o domínio colonial belga era uma página sombria na história da Bélgica, ao repetir comentários do rei belga Philippe em uma visita à RDC no início de junho, acrescentando que os africanos ainda sofrem racismo na Bélgica hoje.
O primeiro-ministro da RDC, Jean-Michel Sama Lukonde, chamou Lumumba de herói nacional e disse que sua morte e a repressão de seus apoiadores prejudicaram não apenas as famílias das vítimas, mas o país como um todo.
A filha de Lumumba, Juliana, que em 2020 enviou uma carta ao rei da Bélgica pedindo a devolução dos restos mortais de seu pai, afirmou que ainda há muitas dúvidas sobre os momentos finais da vida de seu pai.
"Tudo que sabemos é que foi condenado e incapaz de se defender", disse ela em um discurso.
Uma investigação parlamentar belga sobre o assassinato concluiu em 2002 que a Bélgica era "moralmente responsável" pela morte de Lumumba.
(Reportagem de Charlotte Van Campenhout)