Por Jeff Mason e Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta sexta-feira que o papa Francisco lhe disse que ele é um "bom católico" que pode receber a comunhão, aumentando o abismo entre Francisco e bispos conservadores dos EUA que se opõem a isso devido ao apoio de Biden ao direito ao aborto.
Biden e o papa mantiveram uma reunião incomumente longa de 1 hora e 15 minutos no Vaticano, no momento em que ocorre um debate nos Estados Unidos sobre a questão polêmica.
Questionado se o assunto do aborto foi levantado, Biden disse: "Não, não foi. Nós apenas conversamos sobre o fato de que ele estava feliz por eu ser um bom católico e que eu devo continuar recebendo a comunhão", disse Biden a repórteres.
O presidente, que vai à missa semanalmente e mantém uma foto do papa atrás de sua mesa no Salão Oval, afirmou que se opõe pessoalmente ao aborto, mas não pode impor suas opiniões como líder eleito.
Em junho, uma conferência de bispos católicos dos EUA votou para redigir um comunicado sobre a comunhão que alguns bispos dizem que deve repreender especificamente os políticos católicos, incluindo Biden. Eles retomarão a questão no mês que vem.
Mas os comentários do papa a Biden, que os revelou no início de uma reunião com o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, podem tornar difícil para os bispos seguirem seus planos.
Questionado sobre se ele e o papa discutiram acerca dos bispos dos EUA, Biden disse que "é uma conversa particular".
Os críticos mais fervorosos de Biden na hierarquia da igreja nos EUA cobraram o pontífice antes da visita.
"Caro papa Francisco, você afirmou ousadamente que o aborto é 'assassinato'. Por favor, questione o presidente Biden sobre esta questão crítica. Seu apoio persistente ao aborto é um constrangimento para a Igreja e um escândalo para o mundo", tuitou o bispo Thomas Tobin, de Providence, Rhode Island.
Após a reunião, Tobin tuitou: "Temo que a Igreja tenha perdido sua voz profética. Onde estão os João Batistas que enfrentarão os Herodes de nossos dias?", aparentemente comparando Biden ao Rei Herodes, que decapitou o pregador João por criticar os pecados do rei.
No mês passado, o papa disse a repórteres que o aborto é "assassinato", mas pareceu criticar os bispos católicos dos EUA por lidar com a questão de forma política, em vez de pastoral.