Por Lawrence Hurley e Amanda Becker
WASHINGTON (Reuters) - Democratas questionaram Brett Kavanaugh, indicado do presidente norte-americano Donald Trump à Suprema Corte, devido a emails recém-divulgados que sublinham suas opiniões a respeito do aborto e questões raciais nesta quinta-feira, durante sua audiência de confirmação no Senado, depois de uma disputa partidária tensa a respeito da liberação pública dos documentos.
Interrogado pelos senadores, Kavanaugh, juiz conservador de um tribunal federal de apelações escolhido por Trump para uma vaga vitalícia na alta corte, também enfatizou a autoridade do judiciário para conter o poder da Presidência.
Os emails que vieram à tona nesta quinta-feira são da época em que Kavanaugh serviu na Casa Branca do presidente republicano George W. Bush mais de uma década atrás. Os democratas objetaram a uma decisão anterior da liderança republicana do Comitê Judiciário do Senado de não tornar os emails públicos. O terceiro dia da audiência de confirmação voltou a ser interrompido diversas vezes por manifestantes hostis a Kavanaugh. Em um email de 2003, Kavanaugh sugeriu retirar uma linha do esboço de um artigo de opinião que afirmava que "é amplamente aceito por eruditos do Direito em geral que Roe x Wade e sua prole são a lei estabelecida da terra", dizendo que a Suprema Corte poderia reverter o veredicto. Indagado sobre esse documento, Kavanaugh respondeu que sugeriu a mudança por crer que a linguagem do esboço superestimava o pensamento dos eruditos legais à época. Ele voltou a se recusar a dizer se o veredicto histórico de 1973 do caso Roe x Wade, que legalizou o aborto em toda a nação, foi decidido corretamente, mas indicou – como havia feito na quarta-feira – que é uma decisão digna de respeito por ser "um precedente importante da Suprema Corte" que foi "reafirmado muitas vezes".
O senador democrata Cory Booker se concentrou em um email que disse descrever as opiniões de Kavanaugh como assessor da Casa Branca de Bush sobre o uso da "classificação racial" após os ataques de 11 de setembro de 2001 cometidos pelo grupo militante islâmico Al Qaeda nos EUA. No email de 2002, Kavanaugh disse que, embora favorecesse diretrizes sem viés racial no policiamento, havia uma "questão pendente sobre o que fazer até que um sistema racialmente neutro realmente eficaz e abrangente seja desenvolvido e implementado". O senador democrata Dick Durbin disse que a indicação de Kavanaugh está sendo analisada pela Casa em um momento no qual o homem que o selecionou representa uma ameaça ao Estado de Direito do país e enfrenta uma investigação, ao que Kavanaugh respondeu que seu 12 anos como juiz demonstram que ele não teme "invalidar o poder executivo quando ele viola a lei". Se confirmado pelo Senado, Kavanaugh é visto como um juiz que provavelmente inclinará a mais alta instância jurídica do país ainda mais para a direita. Os senadores democratas prometeram lutar duramente para bloquear Kavanaugh, mas os colegas republicanos de Trump detêm uma pequena maioria no Senado e até agora não há sinais de deserção, o que indica que ele deve ser confirmado.