Por Lefteris Papadimas e Nina Chestney
ATENAS/LONDRES (Reuters) - A tempestade Daniel, que causou devastação em todo o Mediterrâneo na semana passada, matou 15 pessoas na região central da Grécia, onde choveu mais do que o registrado anteriormente, antes de chegar à Líbia, onde mais de 2.500 pessoas morreram em uma grande inundação.
À medida que a tempestade se deslocava ao longo da costa do norte da África, as autoridades do Egito procuraram acalmar seus cidadãos, dizendo que o Daniel finalmente havia perdido sua força.
"Não há necessidade de entrar em pânico!", escreveu o jornal Al Ahram em sua edição online em inglês.
Mas o aquecimento global significa que a região poderá ter que se preparar para tempestades cada vez mais fortes desse tipo, o equivalente no Mediterrâneo a um furacão conhecido como "medicane".
"Há evidências consistentes de que a frequência dos medicanes diminui com o aquecimento climático, mas eles se tornam mais fortes", disse Suzanne Gray, do departamento de meteorologia da Universidade de Reading, no Reino Unido, citando um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Na Grécia, a tempestade que se formou em 4 de setembro ocorreu após um período de calor escaldante e incêndios florestais.
Na Líbia, a cidade de Derna foi inundada pela água que desceu pelas colinas até um wadi -- um leito de rio normalmente seco -- rompendo duas represas de captação e varrendo um quarto da cidade costeira.
Pelo menos 10 mil pessoas estão desaparecidas, de acordo com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
O especialista em clima Christos Zerefos, secretário geral da Academia de Atenas, disse que os dados da tempestade ainda não foram totalmente compilados, mas ele estimou que a quantidade de chuva que caiu na Líbia foi igual a 1.000 milímetros (1 metro) que caíram na Tessália, na região central da Grécia, em apenas dois dias.
Ele disse que foi um "evento sem precedentes" e que choveu mais do que nunca na região desde que os registros começaram a ser feitos, em meados do século XIX.
"Esperamos que esses fenômenos ocorram com mais frequência", acrescentou.
Mas os especialistas disseram que o impacto nos países do Mediterrâneo será desigual, sendo mais destrutivo para aqueles com menos recursos para se preparar.
A Líbia, que passou por mais de uma década de caos e conflito e que ainda não tem um governo central que possa se estender por todo o país, está particularmente em risco.
Antes da passagem da tempestade Daniel, o hidrólogo Abdelwanees A. R. Ashoor, da Universidade Omar Al-Mukhtar da Líbia, havia alertado que as repetidas inundações do wadi representavam uma ameaça para Derna.
No entanto, até mesmo a Grécia, que contava com mais recursos, teve dificuldades para lidar com a força da tempestade Daniel. Casas foram varridas, pontes desabaram, estradas foram destruídas, linhas de energia caíram e as plantações na planície fértil da Tessália foram destruídas.
As autoridades gregas disseram na segunda-feira que mais de 4.250 pessoas saíram de vilarejos e assentamentos na região.