Por Gabriele Pileri e Philip Pullella
GIGLIO, Itália (Reuters) - Ester Percossi ainda pode escutar os gritos, sentir o frio e enxergar o terror nos olhos das pessoas.
Ela é uma das sobreviventes do naufrágio do Costa Concordia, cruzeiro de luxo que virou após atingir rochas em uma região na costa da pequena ilha italiana de Giglio, no dia 13 de janeiro de 2012, matando 32 pessoas em um dos piores desastres marítimos da Europa.
Percossi e outros sobreviventes voltaram à ilha para prestar homenagens aos mortos e agradecer novamente os habitantes do local que, no escuro e no auge do inverno, ajudaram a resgatar 4.200 tripulantes e passageiros --número seis vezes maior do que os moradores da ilha na temporada de inverno.
"É algo extremamente emocionante. Estamos aqui hoje para lembrar, principalmente dos que não estão mais conosco, e para revivermos o inferno que passamos e tentarmos, de alguma maneira, exorcizar", disse Percossi em sua chegada na quarta-feira para as celebrações desta quinta.
"Eu lembro dos gritos das pessoas, de gente pulando no mar. Eu lembro do frio, da sensação de terror nos olhos de todos", disse.
Embora muitos se tenham se tornado heróis naquela noite, o capitão do navio, Francesco Schettino, não estava entre eles. Chamado de "Capitão Covarde" pela imprensa italiana por abandonar o navio durante o resgate, ele foi condenado a 16 anos de prisão acusado de homicídio culposo.
A carcaça do Concordia permaneceu nas rochas por dois anos e meio, parecendo uma baleia gigante encalhada na praia. Para alguns moradores, ele nunca saiu de lá.
Na noite do desastre, a irmã Pasqualina Pellegrino, uma freira idosa, abriu a escola local, o convento e uma cantina para abrigar as vítimas do desastre.
"Mesmo agora não é agradável lembrar dele. Mas infelizmente essa é a vida, você tem que continuar apesar da dor, com alegria, dia após dia", disse.
(Por Philip Pullella, em Roma; Reportagem adicional de Yara Nardi)