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Por Sarah Marsh e Paul Carsten e Maria Tsvetkova
BERLIM/NOVA YORK (Reuters) - O partido de extrema-direita alemão AfD, há tempos rejeitado em seu país, está angariando apoio em Washington, aproveitando os laços com personalidades do MAGA que ascenderam a cargos de chefia no governo Trump.
Classificada como extremista pelo serviço de inteligência interna da Alemanha e condenada ao ostracismo pelos principais partidos, o Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) reuniu-se com autoridades do Departamento de Estado dos EUA nos últimos meses -- atitude rara para um partido oposicionista de extrema-direita em um país aliado --, de acordo com um atual e um ex-funcionário dos EUA e uma fonte do governo alemão.
A aproximação reflete um alinhamento crescente entre o AfD e parte do movimento MAGA (Make America Great Again) de Trump, que expressou apoio às queixas do partido sobre a repressão política no país e à sua postura linha-dura em relação à imigração.
Em uma recepção privada em Manhattan no início deste mês, um tenor de ópera fez uma serenata para parlamentares do AfD Jan Wenzel Schmidt e Kay Gottschalk com a primeira estrofe tabu do hino nacional da Alemanha: "Alemanha, Alemanha acima de tudo, acima de tudo no mundo" -- letra que os nazistas usavam para afirmar a superioridade alemã.
Recém-saído de uma reunião com uma autoridade de alto escalão do serviço de Relações Exteriores dos EUA, Schmidt juntou-se ao canto com a mão sobre o coração. Mais tarde, ele negou à Reuters qualquer ligação entre a letra e os nazistas.
A recepção privada em Manhattan, organizada pelo Young Republican Club de Nova York, joga luz sobre os esforços da AfD para construir legitimidade internacional e desafiar o que ela chama de exclusão antidemocrática em seu país.
"Não temos mais democracia", disse Gottschalk aos participantes. "Você não pode dizer o que pensa ou o que gosta."
Os laços cada vez maiores da AfD em Washington ocorrem em um momento em que ela cresce nas pesquisas de opinião alemãs, ameaçando os conservadores do chanceler Friedrich Merz pouco antes de uma série de eleições estaduais no próximo ano que, segundo as sondagens, podem dar à AfD seu primeiro premiê estadual.
"É uma oportunidade calculada para (...) atrair a atenção e alcançar uma proximidade com o poder governamental que seria completamente impensável no concerto de Estados europeus ou de outros Estados", disse Oliver Lembcke, cientista político da Universidade de Bochum, referindo-se à série de reuniões da AfD nos EUA.
O Departamento de Estado não comentou, mas apontou uma foto no X de Darren Beattie, funcionário sênior do serviço de Relações Exteriores, reunido com Wenzel Schmidt e seu colega Markus Frohnmaier.
O funcionário do Departamento de Estado, que pediu anonimato porque não estava autorizado a falar com a imprensa, disse: "Quando você tem uma organização que está fora da corrente principal, eles anseiam pelo selo de legitimidade que historicamente o envolvimento com diplomatas americanos lhes oferece".
Muitos alemães estão alarmados com o AfD, cuja ascensão evoca paralelos inquietantes com a ascensão do Partido Nazista na década de 1930, quando o governo autoritário foi estabelecido por meios legais.
Os outros partidos da Alemanha se recusam a trabalhar com seus parlamentares.
Esse pacto -- conhecido como firewall -- é antidemocrático, argumenta o AfD. Integrantes do partido de extrema-direita argumentam que querem aumentar a conscientização sobre o que consideram uma piora do estado da democracia na Alemanha e obter apoio de alto nível no exterior.
Até o momento, eles têm enfrentado dificuldades. O AfD é evitado por muitos dos outros partidos de extrema-direita da Europa após uma série de escândalos e comentários inflamados. Mas, com o retorno de Trump à Casa Branca, o AfD encontrou um ouvido simpático.
(Reportagem de Maria Tsvetkova em Nova York, Sarah Marsh e Paul Carsten; reportagem adicional de Andreas Rinke em Berlim)
