Por Tulay Karadeniz e Ece Toksabay
ANCARA (Reuters) - O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou nações europeias nesta terça-feira de serem portos seguros para alas políticas de grupos terroristas e disse ser "humor negro" a União Europeia dar sermões a Ancara para que o governo altere suas leis antiterrorismo.
Seus comentários irão diminuir ainda mais as esperanças da Europa de que tudo continue o mesmo nas relações com a Turquia após a saída do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, visto por muitos na UE como uma faceta mais liberal do gabinete turco desde que negociou um acordo histórico de imigração com o bloco.
Na semana passada a UE pediu a seus países-membros que dispensem a exigência de vistos para os cidadãos turcos em troca de Ancara impedir a entrada de imigrantes à Europa via Grécia, mas disse que a Turquia ainda precisa mudar parte de sua legislação, o que inclui alinhar suas leis antiterrorismo aos padrões do bloco.
Em um discurso feito em Ancara, Erdogan afirmou que a UE deveria alterar suas próprias leis antiterrorismo primeiro e que espera que a Europa honre sua promessa de acabar com os vistos para viagens no máximo até outubro.
"Os países europeus continuam sendo portos seguros para as extensões políticas de grupos terroristas. Quando esse é o caso, é uma cena de humor negro a União Europeia criticar nosso país por causa da definição de terrorismo", disse.
"Em primeiro lugar, esperamos que os países da UE reformem suas próprias leis que dão apoio ao terrorismo."
Erdogan ainda está furioso com a presença de manifestantes que simpatizam com o grupo militante Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla em curdo) nas cercanias de uma cúpula UE-Turquia realizada em Bruxelas em março, o que na ocasião ele afirmou demonstrar as "duas caras" do bloco.
Há três décadas o PKK mantém viva sua luta pela autonomia curda no sudeste turco, um conflito que ressuscitou desde o fracasso de um cessar-fogo em julho passado. Turquia, UE e Estados Unidos consideram o PKK um grupo terrorista.
Erdogan também já acusou a Bélgica de ser condescendente com as facções militantes e disse que as autoridades da UE se mostraram "incapazes" depois que a Turquia deportou um militante islâmico que foi solto e se tornou um dos envolvidos nos ataques de homens-bomba do Estado Islâmico em Bruxelas em março.