Por Kirsti Knolle e Harro Ten Wolde
FRANKFURT (Reuters) - A violência contra escritores e uma ideia distorcida de correção política representam novas ameaças à liberdade de expressão no Ocidente, disse o romancista Salman Rushdie nesta terça-feira.
Rushdie, que foi ameaçado de morte pelo regime iraniano em 1989 por causa de seu livro "Os Versos Satânicos", considerado blasfemo por muitos muçulmanos, afirmou que não esperava que a liberdade de expressão voltasse a ser atacada novamente a tal ponto no mundo ocidental.
"Parece-me que a batalha pela liberdade de expressão foi vencida 100 anos atrás", disse o também ensaísta, de 68 anos, a uma plateia na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, sob forte esquema de segurança. "O fato de que tenhamos que continuar esta luta é o resultado de uma série de fenômenos lamentáveis e mais recentes".
Depois que atiradores islâmicos mataram 12 pessoas em janeiro na redação do semanário satírico francês Charlie Hebdo –que debocha de várias religiões, inclusive o islamismo– Rushdie defendeu os chargistas assassinados.
Ele ainda é criticado por seus adversários religiosos: o Ministério da Cultura do Irã cancelou seu estande na feira alemã deste ano por causa da participação de Rushdie, e a Arábia Saudita protestou contra uma nova tradução tcheca de "Os Versos Satânicos" esta semana.
Rushdie criticou as limitações à liberdade de expressão impostas em universidades, referindo-se a exemplos recentes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. "A ideia de que estudantes não deveriam ser intelectualmente desafiados nas universidades é exatamente o que devemos combater", disse.
O escritor britânico-indiano, que ficou escondido durante anos após a fatwa (sentença de morte) de 1989 do então líder iraniano, aiatolá Ruhollah Khomeini, ordenando os muçulmanos a matá-lo, voltou a frequentar eventos públicos nos últimos anos e está em Frankfurt para divulgar seu novo livro.