Por Andrei Khalip
LISBOA (Reuters) - Dois pequenos partidos de esquerda em Portugal chegaram a um acordo para formar um governo com o moderado Partido Socialista para tirar do poder a coalizão de centro-direita, cujo primeiro-ministro reconheceu nesta sexta-feira que pode ser deposto do cargo.
A perspectiva de um governo esquerdista pode afetar a tímida recuperação econômica de Portugal por causa da potencial instabilidade e o fato de que os parceiros deste possível governo rejeitam algumas reformas impostas para superar a crise da dívida.
O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda disseram ter alcançado acordos para formar um governo com os socialistas que teria maioria no Parlamento.
O Bloco de Esquerda disse que "estão dadas as condições para um acordo de esquerda para proteger os empregos, os salários e as aposentadorias", enquanto que os comunistas afirmaram que se chegou a uma posição conjunta com os socialistas que garante a formação de um governo duradouro liderado pelos socialistas.
O gabinete do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que é a favor da austeridade fiscal, foi empossado na semana passada, depois que sua coalizão conquistou maior número de votos na eleição de 4 de outubro, mas perdeu a maioria no Parlamento, que se inclinou para a esquerda.
No início desta semana, os socialistas alertaram que está acabando o tempo para se chegar a um entendimento para um governo esquerdista de maioria, que eles prometeram montar antes de tentar derrubar o novo gabinete na semana que vem no Parlamento.
Em conversa com repórteres, Passos Coelho admitiu pela primeira vez que seu governo pode ser desfeito.
"Se eu não for primeiro-ministro a partir de terça-feira, será porque o Partido Socialista não deixou... Estarei onde for preciso, no governo, que é o lugar natural de quem ganha as eleições, mas, se porventura não estiver no governo e estiver na oposição, não deixarei de assumir as minhas responsabilidades", declarou.
O Partido Socialista argumentou que pode formar um governo apoiado por uma maioria de esquerda que respeitaria as regras orçamentárias da Europa.
Mas a extrema esquerda, especialmente os comunistas, rechaçam os limites orçamentários impostos por Bruxelas e têm várias outras divergências ideológicas significativas, o que torna difícil que se chegue a um acordo vinculante entre eles.
Alguns socialistas também são favoráveis a uma coalizão de centro, em vez de um acordo com a esquerda radical.