SÃO PAULO (Reuters) - Quase 20 anos depois, a diretora Sandra Werneck ("Cazuza – O Tempo Não Para") revisita os personagens de "Pequeno Dicionário Amoroso", na continuação novamente protagonizada por Andréa Beltrão e Daniel Dantas.
E o que mudou na vida de Luiza e Gabriel? Depois de se separarem, cada um se envolveu num novo relacionamento. Ela está casada com Alex (Marcello Airoldi) e teve mais um filho, Pedro (Miguel Arraes).
Já ele não se envolve seriamente com ninguém, e, no momento, está namorando Jaqueline (Fernanda de Freitas), uma moça bem mais nova, e com pouca paciência para as esquisitices dele. Além disso, mantém um bom relacionamento com sua ex-mulher esotérica, Bel (Glória Pires), e a filha, Alice (Fernanda Vasconcellos).
"Pequeno Dicionário Amoroso 2" segue a mesma estrutura do primeiro filme, dividido em verbetes e seguindo ordem alfabética – o que, no fundo, atrapalha, tornando-se uma amarra para a narrativa, que precisa se encaixar nas necessidades do formato sem encontrar fluidez.
O roteiro, assinado por Paulo Halm e Rita Toledo, é esquemático, muitas vezes ingênuo, em sua visão de mundo, retratando os personagens como recém-saídos do mundo maravilhoso de uma telenovela.
Luiza e Gabriel se reencontram no enterro do padrasto dela, onde a mãe da moça, Dona Sônia (Camilla Amado), o confunde com um anjo. Os dois conversam muito e sentem saudades do passado. O casamento dela está em crise e uma certa nostalgia começa a tomar conta dela. O filme segue, então, caminhos bem previsíveis sobre as idas e vindas do ex-casal.
Tentando dar um ar de novidade e atualidade, há (como se diz em telenovela) o núcleo jovem do filme, formado pelos filhos de Luiza e Gabriel. São jovens cariocas de classe média que parecem não ter descoberto que a vida não gira em torno de seus umbigos.
Pedro gosta de ficar na Internet, e, com os hormônios em ebulição, "se envolve" com uma mulher mais velha, fingindo não ser um adolescente. Alice, cheia de dúvidas, começa a namorar uma garota (Priscila Steinman), mas também se relaciona com um rapaz (Renato Goés).
Se as tramas soam pouco interessantes, a direção – coassinada por Mauro Farias – não faz nenhum esforço para fugir das armadilhas do gênero comédia romântica, leia-se, tentar ser fofo, terno, e, entre um beijo e uma DR, falar alguma verdade sobre as relações humanas.
Tornaram-se cansativas todas essas obrigações que o gênero se impõe, esse ar de profundidade desnecessária, essa ternura melosa, que combina com o horário televisivo das 9 e Bossa Nova na trilha.
Existe um esforço de parte do elenco – especialmente de Andréa Beltrão, sempre luminosa no que faz – mas eles não conseguem superar o ar de crônica de um amor-que-não-vai-dar-certo, algo que pode se ver de longe.
O que diferenciaria o primeiro filme deste nessas quase duas décadas? Talvez a resposta esteja fora do longa.
O primeiro, de 1997, era de uma época em que fazer um filme no Brasil era um triunfo – a produção no país tentava retomar-se depois de praticamente zerar. Então, o longa de Sandra Werneck era praticamente um sinônimo de resistência. Em 2015, em outro contexto, "Pequeno Dicionário Amoroso 2" não deve encontrar a mesma benevolência com que contou seu antecessor.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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