Por Aislinn Laing
SANTIAGO (Reuters) - Um estudante chileno que se tornou um para-raio de tumultos sociais abrangentes depois que a polícia o baleou no rosto durante uma manifestação disse que o presidente do Chile, Sebastián Piñera, jamais reconquistará a confiança dos cidadãos e deveria renunciar.
Gustavo Gatica, aluno de psicologia de 22 anos de uma universidade de Santiago, disse que Piñera, bilionário conservador que cumpriu dois anos de mandato, desperdiçou uma chance inicial de acolher as queixas de desigualdade social e elitismo dos manifestantes quando os tumultos começaram em outubro.
Em vez disso, afirmou Gatica à Reuters na primeira entrevista que concedeu desde que perdeu a visão em novembro, Piñera disse que o Chile estava "em guerra" com os perpetradores da violência e não conseguiu conter os abusos de direitos humanos cometidos pela polícia.
"Estes tumultos poderiam ter irrompido a qualquer momento porque os políticos não tinham ideia do que as pessoas estava sentindo, viviam em uma bolha", disse.
"A diferença é que Piñera declarou guerra, houve mortes, ataques a tiro. É por isso que as pessoas continuam nas ruas, por isso que existe tanta violência, porque ele continua no cargo", afirmou.
"Sua renúncia diminuiria a tensão."
Os protestos resultaram em ao menos 31 mortos, 3 mil feridos e 30 mil detidos. Procuradores estão investigando alegações de abusos feitas por mais de 5 mil pessoas contra as forças de segurança.
A agência de direitos humanos do Chile alega que 445 pessoas sofreram lesões oculares, principalmente por culpa de cilindros de gás lacrimogêneo e balas de borracha.