Por Olena Harmash e Phil Stewart e Idrees Ali
KIEV/WASHINGTON (Reuters) - Washington disse que a queda de um drone espião dos Estados Unidos nesta semana após um encontro com jatos russos demonstrou o comportamento "agressivo" de Moscou, enquanto a Rússia acusou os EUA de tentar aumentar as tensões na região do Mar Negro.
O incidente com o drone na terça-feira foi o primeiro enfrentamento direto EUA-Rússia conhecido desde que Moscou iniciou a guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro do ano passado e revelou o estado precário das relações entre as principais potências nucleares do mundo.
O enfrentamento com o drone ocorreu em um momento em que a Rússia mantém uma campanha de meses para capturar a pequena cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, no que seria a primeira vitória substancial de Moscou na guerra em mais de meio ano. No entanto, o líder instalado pela Rússia na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, disse nesta quinta-feira que a situação em torno da cidade agora em ruínas continua "difícil", já que Kiev se recusa a retirar suas forças.
Os ministros da Defesa e chefes militares dos EUA e da Rússia tiveram raras conversas telefônicas na quarta-feira sobre o incidente com o drone, no qual o MQ-9 Reaper mergulhou no Mar Negro durante uma missão de reconhecimento em espaço aéreo internacional.
Os militares dos EUA disseram que dois aviões de combate russos Su-27 avançaram sobre o drone e jogaram combustível nele antes de um deles danificar a hélice do drone, causando a queda do equipamento. Moscou disse que não houve colisão e que o drone caiu após fazer "manobras bruscas", tendo voado "provocativamente" perto do espaço aéreo russo.
"Existe um padrão de comportamento recentemente em que há ações um pouco mais agressivas sendo conduzidas pelos russos", disse o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, acrescentando que não está claro se os pilotos russos pretendiam atacar o drone.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, afirmou a seu colega dos EUA que os voos de drones dos EUA perto da costa da Crimeia são "de natureza provocativa" e podem levar a "uma escalada...na zona do Mar Negro", disse um comunicado do ministério. A Rússia anexou a Crimeia, antigo território ucraniano, em 2014.
A Rússia, diz o comunicado, "não tem interesse" em uma escalada "mas no futuro reagirá na devida proporção" e os dois países devem "agir com o máximo de responsabilidade", inclusive tendo linhas de comunicação militares em uma crise.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, recusou-se a fornecer detalhes sobre sua conversa com Shoigu, incluindo se ele criticou a interceptação russa.
No entanto, Austin acrescentou: "Os EUA continuarão a voar e operar onde quer que a lei internacional permita. E cabe à Rússia operar suas aeronaves militares de maneira segura e profissional."
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Ned Price, falando à MSNBC, disse que o incidente provavelmente foi um ato não intencional da Rússia.
A Rússia afirmou que o episódio mostrou que Washington está participando diretamente da guerra na Ucrânia, algo que o Ocidente tem se esforçado para evitar.