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Generais de Mianmar tiveram "intenção genocida" contra rohingyas, diz ONU

Publicado 27.08.2018, 09:02
© Reuters. Comandante-chefe das Forças Armadas de Mianmar, Min Aung Hlaing, em Yangon

Por Stephanie Nebehay

GENEBRA (Reuters) - Militares de Mianmar realizaram massacres e estupros coletivos de muçulmanos rohingyas com "intenção genocida", e o comandante-chefe e cinco generais deveriam ser processados por orquestrarem os crimes mais graves previstos em lei, disseram investigadores da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira.

O governo civil de Mianmar liderado por Aung San Suu Kyi permitiu que o discurso de ódio florescesse, destruiu documentos e deixou de proteger minorias de crimes contra a humanidade e crimes de guerra do Exército nos Estados de Rakhine, Kachin e Shan, afirmaram os investigadores da ONU em um relatório.

Tudo isso "contribuiu para o cometimento de crimes atrozes", acrescentou o relatório.

Um ano atrás, tropas do governo realizaram uma operação repressiva brutal em Rakhine em reação a ataques do Exército de Salvação Arakan Rohingya (Arsa) contra 30 postos policiais e uma base militar de Mianmar.

Cerca de 700 mil rohingyas fugiram da repressão, e a maioria está vivendo em campos de refugiados na vizinha Bangladesh.

O relatório da ONU disse que a ação militar, que incluiu a queima de vilarejos, foi "inteiramente desproporcional a ameaças de segurança reais".

A ONU define o genocídio como atos que visam destruir um grupo nacional, étnico, racial ou religioso em parte ou por inteiro. Tal designação é rara na lei internacional, mas foi usada em países como a Bósnia e o Sudão e em relação à campanha do Estado Islâmico contra comunidades yazidi no Iraque e na Síria.

"Os crimes no Estado de Rakhine, e a maneira como foram perpetrados, são semelhantes em natureza, gravidade e abrangência àqueles que permitiram que uma intenção genocida fosse estabelecida em outros contextos", disse a Missão Independente de Levantamento de Fatos da ONU em Mianmar.

No relatório final de 20 páginas, a missão disse: "Há informações suficientes para justificar a investigação e o processo de autoridades de alto escalão da cadeia de comando do Tatmadaw (Exército) para que um tribunal competente possa determinar sua responsabilidade por genocídio em relação à situação no Estado de Rakhine".

O governo de Mianmar, que recebeu uma cópia do relatório da ONU previamente, como de praxe, não comentou. Contatado por telefone, o porta-voz dos militares de Mianmar, general Tun Tun Nyi, disse que não poderia comentar de imediato.

© Reuters. Comandante-chefe das Forças Armadas de Mianmar, Min Aung Hlaing, em Yangon

Entre os acusados está o general Aung Aung, comandante da 33ª Divisão de Infantaria, que supervisionou as operações na vila costeira de Inn Din, onde 10 meninos e homens rohingyas em cativeiro foram mortos.

A Reuters não conseguiu entrar em contato com Aung Aung nesta segunda-feira.

O massacre foi revelado por dois repórteres da Reuters, Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28 anos, que em razão disso foram presos em dezembro e estão sendo julgados por acusações de violação da Lei de Segredos Oficiais do país.

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