Por Simon Lewis
YANGON (Reuters) - O governo de Mianmar se encarregará da recuperação de vilarejos incendiados durante confrontos ocorridos no Estado de Rakhine, que levaram à fuga de quase meio milhão de muçulmanos rohingyas para Bangladesh, disse um ministro nesta quarta-feira, segundo relatos.
O plano de recuperação das áreas destruídas por incêndios, que o governo atribuiu a insurgentes rohingyas, provavelmente suscitará preocupação com as perspectivas para o retorno ao país dos 480 mil refugiados e aumenta o temor de uma limpeza étnica.
"De acordo com a lei, terras incendiadas se tornam terras administradas pelo governo", disse o ministro de Desenvolvimento Social, Assistência e Reassentamento, Win Myat Aye, a uma plateia em Sittwe, capital de Rakhine, segundo o jornal Global New Light of Myanmar.
Win Myat Aye também dirige um comitê encarregado de implementar recomendações para a solucionar as tensões latentes há tempos no Estado.
Citando uma lei de gerenciamento de desastres, ele afirmou em uma reunião com autoridades realizada na terça-feira que a recuperação será "muito eficiente". A lei determina que o governo supervisione a reconstrução em áreas danificadas por desastres, inclusive conflitos.
Não houve nenhum detalhamento de qualquer plano nem sobre que tipo de acesso a seus antigos vilarejos os rohingyas que voltarem podem esperar. O ministro não estava disponível de imediato para comentar.
Grupos de direitos humanos que usam imagens de satélite disseram que cerca de metade dos mais de 400 vilarejos rohingyas no norte de Rankine foram incendiados durante os episódios de violência.
Os refugiados que chegaram em Bangladesh acusaram o Exército e vigilantes budistas de montarem uma campanha de violência e incêndios criminosos visando expulsá-los de Mianmar.
A nação majoritariamente budista rejeitou acusações feitas pela Organização das Nações Unidas (ONU) de limpeza étnica de muçulmanos rohingyas, em reação aos ataques coordenados de insurgentes rohingyas contra suas forças de segurança em 25 de agosto.
O governo disse que cerca de metade dos vilarejos rohingyas foram abandonados, mas culpa os insurgentes do Exército de Salvação Arakan Rohingya de causarem os incêndios e atacarem civis.
O governo também afirma que quase 500 pessoas foram mortas desde 25 de agosto, sendo cerca de 400 insurgentes. Ele também rejeitou as acusações de crimes contra a humanidade, lançadas nesta semana pela Human Rights Watch.
A violência no Estado de Rakhine e o êxodo de refugiados é a maior crise que o governo da prêmio Nobel da Paz Suu Kyi já enfrentou desde que chegou ao poder no ano passado, em uma transição depois de quase 50 anos de governo militar.
Mianmar considera os rohingyas como imigrantes ilegais de Bangladesh e ataques e conflitos tem ocorrido há décadas. A maioria dos rohingyas são apátridas.
Suu Kyi enfrenta críticas ferrenhas e pedidos que seu prêmio Nobel seja retirado. Ela denunciou as violações dos direitos em um discurso na semana passada e prometeu que os agressores serão processados. Ela também disse que todos os refugiados que comprovadamente sejam de Mianmar, no âmbito do acerto com Bangladesh de 1992, serão aceitos de volta.
Mas muitos refugiados estão pessimista com as chances de voltarem para casa, por temerem não ter a papelada que provavelmente será exigida para provar que vieram de Mianmar.