Por Miriam Berger e Luke Baker
JERUSALÉM/RAMALLAH, Cisjordânia (Reuters) - A política palestina é uma busca incessante e muitas vezes infrutífera: depois de mais de duas décadas de idas e vindas em negociações, um Estado continua fora de alcance. Agora se deve somar a isso a idade avançada e uma saúde frágil.
O presidente Mahmoud Abbas, que fará 83 anos em março, foi hospitalizado várias vezes nos últimos meses para fazer check-ups e recebeu tratamento no exterior. Seu principal negociador de paz, Saeb Erekat, é 20 anos mais jovem e praticante de corrida, mas tem fibrose pulmonar e precisa de um transplante de pulmão.
Assessores de Abbas dizem que ele continua forte, e aqueles que trabalham com Erekat o descrevem como incansável, mesmo quando tem que usar um tanque de oxigênio para respirar melhor. Em um email, Erekat se recusou a discutir sua saúde em detalhes, dizendo se tratar de um assunto pessoal.
"Eu gostaria de manter assim", disse.
O fato de dois dos palestinos mais proeminentes na arena mundial estarem envelhecendo e, no caso de Erekat, necessitando de uma cirurgia da qual sua vida depende despertaram dúvidas, tanto em Israel quanto nos territórios palestinos, sobre o que virá a seguir.
Se o presidente dos últimos 12 anos e seu negociador-chefe saírem de cena, quem irá assumir seus lugares? E, tendo em conta a profunda divisão na política palestina --o partido de Abbas, Fatah, está em choque com o Hamas, o movimento islâmico que controla Gaza-- , quais são os riscos de um conflito interno armado?
A maioria dos analistas e observadores de assuntos palestinos considera remota a chance de um confronto direto entre Fatah e Hamas, especialmente porque Israel, que mantém um bloqueio rígido sobre Gaza e ocupa a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, tem interesse em evitá-lo.
Ao mesmo tempo, embora Abbas possa ter dominado o cenário depois da morte de Yasser Arafat em 2004, os palestinos não carecem das estruturas políticas ou dos meios para encontrar um sucessor viável, e vários nomes já estão sendo cogitados.
"Por ora, não parece haver nenhum indicador de que as coisas estão rumando para a violência", apesar do "terreno fértil" para isso, disse Khalil Shikaki, pesquisador de opinião e importante analista do Centro Palestino de Pesquisa de Políticas e Pesquisas.
"O fator mais importante é que o rompimento, embora crie frustração, também torna difícil para Fatah e Hamas confiarem um no outro e trabalharem juntos para lançar ataques violentos."
A maior preocupação pode ser como uma transferência de poder seria manejada e se pode ser realizada tranquilamente.
"Se (os palestinos) se unirem em torno de uma figura, acho que existe uma chance de uma transição pacífica. Isso parece cada vez menos provável", opinou Grant Rumley, coautor de uma biografia de Abbas e bolsista de pesquisa da Fundação para a Defesa das Democracias, em Washington.
(Reportagem adicional de Ali Sawafta em Ramallah e Nidal al-Mughrabi em Gaza)