Por Aadi Nair e Layli Foroudi
PARIS (Reuters) - As boxeadoras de Argélia e Taiwan envolvidas em uma disputa sobre gênero nos Jogos de Paris foram desqualificadas do Campeonato Mundial de Boxe de 2023 depois que exames de cromossomo sexual determinaram que ambas eram inelegíveis, informou a Associação Internacional de Boxe (IBA) nesta segunda-feira.
Uma tempestade tem marcado a participação de Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-ting, de Taiwan, na Olimpíada de Paris, depois que uma oponente italiana de Khelif se retirou da luta em menos de um minuto após levar uma saraivada de socos.
A competição de boxe em Paris 2024 está sendo realizada de acordo com as regras do Comitê Olímpico Internacional (COI) depois que o COI destituiu a IBA de seu status de órgão regulador global do esporte por questões de governança e finanças.
O chefe-executivo da IBA, Chris Roberts, disse em entrevista coletiva que não poderia divulgar os resultados dos testes de elegibilidade de gênero, mas que a desqualificação da dupla no Campeonato Mundial Feminino de 2023 significava que o público poderia "ler nas entrelinhas".
"Os resultados dos testes cromossômicos demonstraram que as duas boxeadoras não eram elegíveis", disse Roberts a repórteres.
Ele disse que os resultados dos exames foram enviados ao COI em junho do ano passado e que o COI não fez "nada com eles".
A disputa reavivou o debate sobre o equilíbrio entre justiça e segurança, especialmente nos esportes femininos, onde as diferenças de desenvolvimento sexual podem resultar em uma vantagem competitiva que pode ser perigosa.
O COI diz que a IBA é uma organização desacreditada, atolada em obscurantismo financeiro e comprometida por laços com a liderança russa.
O COI disse que Khelif e Lin foram "vítimas de uma decisão repentina e arbitrária da IBA" e que elas foram desqualificadas em 2023 sem o devido processo.
"Temos duas boxeadoras que nasceram como mulheres, foram criadas como mulheres, têm passaportes como mulheres e competiram por muitos anos como mulheres, e essa é uma definição clara de mulher", disse o presidente do COI, Thomas Bach, no sábado.
ESPORTE E GEOPOLÍTICA
A IBA afirma que agiu para proteger as boxeadoras.
As relações entre o COI e a IBA azedaram após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. A IBA é dirigida pelo russo Umar Kremlev e tem a empresa estatal russa de energia Gazprom como principal patrocinador, embora Kremlev tenha dito no ano passado que o patrocínio havia terminado.
Bach disse que as reclamações da IBA fazem parte de uma campanha mais ampla com o objetivo de atacar os Jogos Olímpicos de Paris, dos quais a Rússia foi excluída devido à guerra na Ucrânia.
Em uma apresentação longa e desconexa, Kremlev passou de ataques pessoais contra Bach a críticas contra a cerimônia de abertura dos Jogos, e defendeu sua própria luta contra a corrupção.
"Hoje estamos testemunhando a morte do boxe feminino, a corrupção dos juízes. Tudo isso acontece com o sr. Bach presidente", disse Kremlev na coletiva de imprensa da IBA por meio de um link de vídeo.
Kremlev também disse que os exames mostraram que as duas boxeadoras tinham altos níveis de testosterona, sem fornecer mais detalhes. O médico da IBA, Ioannis Filippatos, disse que a testosterona não foi testada.
Alun Williams, professor de genômica esportiva e de exercícios da Manchester Metropolitan University, disse que, ao considerar a determinação do sexo e a elegibilidade, era necessário analisar os cromossomos, os níveis de testosterona e outros hormônios, bem como a resposta do corpo à testosterona.
"Isso é uma avaliação clínica, que é realmente muito invasiva", disse Williams. "Simplesmente olhar para os cromossomos sexuais de alguém... é incompleto."
O furor sobre gênero varreu a mídia social e viu pessoas como J. K. Rowling e o fundador da Tesla (NASDAQ:TSLA), Elon Musk, expressarem sua oposição à presença das duas boxeadoras nos Jogos.
O pai de Khelif disse que sua filha havia trazido honra à família e descreveu os ataques contra ela como "imorais".