Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em seu segundo discurso de abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que o Brasil é vítima de uma campanha sobre o meio ambiente baseada em "interesses escusos" com intenção de prejudicar o país e o governo.
"Somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal", disse o presidente em sua fala nesta terça-feira.
"A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha, escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil", acrescentou.
Este ano, por causa da epidemia de Covid-19, os discursos dos presidentes à Assembleia-Geral foram gravados em vídeos e encaminhados antecipadamente à Organização das Nações Unidas (ONU).
Mais uma vez, Bolsonaro negou as queimadas na Amazônia, afirmando que a floresta é úmida e não permite fogo em seu interior, e que os incêndios ocorrem no entorno da floresta, causados por índios e "caboclos", em áreas já desmatadas.
A fala do presidente contraria indícios levantados por órgãos oficiais que mostram focos de incêndio em áreas indígenas demarcadas invadidas por outros grupos e de proteção ambiental que não haviam sido desmatadas. Segundo especialistas, as queimadas costumam ser a última fase do desmatamento, quando toda a madeira de valor é retirada e se usa o fogo para limpar a terra.
Bolsonaro, no entanto, afirmou que seu governo tem uma política de "tolerância zero" contra as atividades ilegais na Amazônia e que sua gestão estaria ampliando o uso de tecnologia para combater os crimes ambientais.
"Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental", disse.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de incêndio na Amazônia está 12% maior que em 2019 até 21 de setembro, alcançando 71.673 focos. O desmatamento cresceu 34% entre agosto de 2019 e julho de 2020.
Ao defender a ação de seu governo no meio ambiente, Bolsonaro destacou a produção agropecuária brasileira que, pelo seu crescimento, atrairia uma campanha contra o Brasil.
"Mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono. Garantimos segurança alimentar a um sexto da população mundial, mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e a agricultura --números que nenhum outro país possui", disse.
"O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos. Por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente."
O presidente usou ainda seu discurso para defender as ações de seu governo no combate à epidemia de Covid-19. No discurso, de pouco menos de 15 minutos --tempo limite pedido pela ONU aos países-- Bolsonaro afirmou que defendia, desde o início da epidemia, que o vírus e a economia precisavam ser tratados "simultaneamente e com a mesma responsabilidade".
Mais uma vez, o presidente alegou que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que deu aos governadores o poder de tomar decisões sobre o fechamento ou não do comércio, indústria e serviços durante a epidemia, o impediu de fazer mais, e creditou à imprensa uma suposta politização do vírus.
"Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema 'fique em casa' e 'a economia a gente vê depois', quase trouxeram o caos social ao país", disse.
Apesar da fala do presidente, a decisão do Supremo, na verdade, foi limitada apenas à abertura ou não de negócios, não influenciando na capacidade do governo federal de coordenar a resposta a epidemia nem vetando que o Executivo atuasse nesta direção.
Bolsonaro, que chamou a Covid-19 --doença que já matou mais de 137 mil pessoas no Brasil-- de "gripezinha", criticou medidas de distanciamento social, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conter a disseminação do vírus, e por diversas vezes causou aglomerações, o que também é desaconselhável.