Por William James e Kate Holton
LONDRES (Reuters) - O premiê britânico, Boris Johnson, irá limitar a oportunidade de o Parlamento inviabilizar seus planos em torno do Brexit ao reduzir o tempo hábil para que a Casa tente impedir um cenário sem acordo até 31 de outubro, em uma medida que enfureceu a oposição, sob alegações de insulto à Constituição.
Em seu passo mais ousado até agora para retirar o Reino Unido da União Europeia com ou sem acordo, Johnson disse que marcaria para 14 de outubro o discurso em que anunciará a abertura formal de uma nova sessão parlamentar, na qual estabelecerá a agenda legislativa de seu governo.
A medida deve fechar efetivamente o Parlamento por cerca de um mês a partir da metade de setembro, o que reduziria o tempo hábil para que os parlamentares pudessem tentar bloquear um Brexit sem acordo.
O anúncio de Johnson fez com que a libra operasse em queda em relação ao euro e ao dólar.
Questionado em uma entrevista televisionada sobre a medida ser uma tentativa e impedir que políticos adiassem a saída da UE, Johnson disse que "isso é completamente falso".
"Haverá tempo suficiente para ambos lados da cúpula crucial (dos líderes da UE) em 17 de outubro, tempo suficiente no Parlamento para os parlamentares debaterem a UE, debaterem o Brexit e todas as outras questões, tempo suficiente".
Mais de três anos após um referendo decidir por 52% que o Reino Unido deixasse o bloco, os termos para isso --ou quando-- ainda são pouco claros.
A apenas 65 dias até a suposta data limite, os parlamentares estão lutando para impedir que o primeiro-ministro tire o país da UE sem um acordo de transição, direcionando um dos países mais estáveis da Europa a uma crise constitucional.
Na terça-feira, líderes dos partidos da oposição somaram forças para tentar utilizar um procedimento parlamentar para forçar Johnson a adiar o Brexit para além de 31 de outubro.
Ao passo que suspender o Parlamento próximo ao discurso de abertura do Parlamento é uma tradição britânica, limitar a votação parlamentar semanas antes da decisão política mais controversa em décadas despertou reações imediatas. O presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, disse que o movimento foi um "insulto à Constituição".