Por Michel Rose e John Irish
PARIS (Reuters) - O presidente da França, Emmanuel Macron, irá à China na próxima semana para uma rara visita à superpotência, em um embaraçoso ato de equilíbrio entre suas ambições de estadista global e sua luta para conter protestos contra reforma da previdência dentro de seu país.
O líder da França, cuja decisão de forçar a contestada legislação previdenciária no parlamento no início deste mês provocou confrontos e violência nas cidades francesas, está tentando manter sua ocupada agenda diplomática nos trilhos.
Mas as cenas caóticas de pilhas de lixo queimando em Paris, que foram transmitidas para todo o mundo, já obrigaram Macron a cancelar uma visita de Estado do rei britânico Charles, um constrangimento que não passou despercebido nos círculos diplomáticos.
"É uma coisa muito prestigiosa receber a primeira visita do rei da Inglaterra ao exterior, não acontece todos os dias. Se você não conseguir, é um problema", disse o embaixador de um país europeu à Reuters.
"Está claro que ele está enfraquecendo", afirmou outro diplomata da União Europeia. "É difícil medir o impacto, mas ele existe."
Os protestos, que farão com que os sindicatos realizem uma 11ª greve nacional durante o período de Macron em Pequim, ocorrem no momento em que o presidente francês tenta recuperar a iniciativa sobre a guerra na Ucrânia e desempenhar um papel de liderança na Europa.
Isso não escapou aos observadores chineses.
"Os protestos trazem uma grande quantidade de risco e a França precisa de um destaque diplomático, especialmente porque quer desempenhar o papel de líder da Europa", disse Wang Yiwei, diretor do Centro de Estudos Europeus da Universidade Renmin, na China.
Macron também precisará ter em mente a tática da China de dividir para governar, disse um diplomata não ocidental que sugeriu que a China pode tentar usar a viagem para colocar uma rixa no campo ocidental e distanciar a França dos Estados Unidos.
De sua parte, Macron quer enviar um aviso claro a seu colega Xi Jinping, que foi recebido no Kremlin pelo presidente russo Vladimir Putin neste mês, de que a Europa não aceitará que a China forneça armas à Rússia, agora com um ano de invasão da Ucrânia.
"Nossa mensagem será clara: pode haver uma tentação de se aproximar da Rússia, mas não ultrapasse essa linha", disse um importante diplomata francês.
Analistas dizem que a decisão de Putin de posicionar armas nucleares em Belarus pode oferecer uma oportunidade para a França pressionar a China a se distanciar da Rússia neste ponto, já que Pequim há muito condena a proliferação nuclear.
"A França é uma potência nuclear, tem esta carta para jogar", afirmou Antoine Bondaz, do think tank francês FRS.
(Reportagem de Michel Rose, John Irish em Paris e Laurie Chen em Pequim)