Por Angus Berwick e Vivian Sequera
CARACAS (Reuters) - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decidiu fechar a fronteira do país com o Brasil na noite de quinta-feira e ameaça fazer o mesmo com a Colômbia, ao mesmo tempo em que o líder da oposição Juan Guaidó e cerca de 80 parlamentares ultrapassaram uma série de bloqueios rodoviários para chegar à fronteira colombiana e receber ajuda humanitária.
Em declarações na televisão, Maduro disse que o armazenamento de ajuda para a Venezuela na cidade colombiana de Cúcuta, que faz fronteira com o país, foi uma "provocação".
Guaidó, que é reconhecido por dezenas de países, entre eles Brasil e Estados Unidos, como o chefe de Estado venezuelano legítimo, está a caminho de um confronto com o governo de Maduro no sábado, quando a oposição tentará garantir a entrada na Venezuela de alimentos e medicamentos atualmente armazenados em países vizinhos.
Maduro nega que o país passe por uma crise humanitária e disse nesta quinta-feira estar considerando fechar a fronteira com a Colômbia e que iria fechar a fronteira com o Brasil, efetivamente bloqueando todo acesso terrestre legal ao território venezuelano.
"Não quero tomar nenhuma decisão deste tipo, mas estou avaliando, um fechamento total da fronteira com a Colômbia", disse Maduro.
O governo tem dito que soldados estarão mobilizados em pontos oficiais de passagem para reprimir quaisquer “violações territoriais”, embora a oposição possa tentar levar os suprimentos através de qualquer parte das permeáveis fronteiras venezuelanas.
A Venezuela já fechou sua fronteira marítima com as ilhas das Antilhas Holandesas de Aruba, Curaçao e Bonaire, depois que o governo de Curaçao se dispôs a ajudar no armazenamento da ajuda humanitária.
Parlamentares da oposição deixaram Caracas em um comboio de ônibus pouco depois das 10h (horário local), embarcando para uma viagem de 800 km até a fronteira colombiana. Multidões se formaram ao longo de uma importante rodovia que parte da capital, acenando com bandeiras venezuelanas e gritando palavras de apoio.
Um bloqueio em um túnel da rodovia principal forçou diversos ônibus a interromper a viagem, disseram testemunhas da Reuters e parlamentares. Políticos que tentaram passar entraram em confronto com soldados na saída do túnel, segundo imagens de televisão.
“Nós temos um compromisso, que é chegar à fronteira. Nós tentaremos chegar o mais longe que pudermos”, disse a parlamentar Mariela Magallanes à Reuters por telefone direto do local. “Ajuda humanitária não é um capricho de alguns poucos parlamentares, é uma necessidade.”
Mariela disse que seu veículo conseguiu cruzar o túnel após ficar preso por diversas horas, mas que outros ônibus permaneceram para trás.
Parlamentares disseram que o veículo de Guaidó continua a caminho, mas que sua localização exata está sendo mantida em segredo devido a temores por sua segurança.
O Ministério de Informação da Venezuela não respondeu a um pedido por comentário.
Guaidó ainda não detalhou como o auxílio ingressará no país. Figuras da oposição sugeriram a formação de correntes humanas através da fronteira colombiana para passar pacotes de pessoa a pessoa e frotas de barcos vindas das Antilhas Holandesas.
Um parlamentar opositor de Bolívar, Estado do sudeste do país, disse que ele e cerca de 20 políticos também viajarão à fronteira com o Brasil.
Em Brasília, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que o governo brasileiro mantém a operação de levar a ajuda humanitária até a fronteira com a Venezuela.