Por Lisandra Paraguassu
LIMA (Reuters) - O presidente Michel Temer pediu neste sábado o envolvimento das Nações Unidas em uma solução duradoura, baseada no direito internacional, para o conflito na Síria a afirmou que o uso da força não resolve.
"Há uma profunda preocupação no nosso país com a escalada do conflito militar na Síria. Já é passada a hora de encontrarmos soluções duradouras baseadas em direito internacional. Uma guerra que se estende já há tempo demais, com perdas humanas demais", disse Temer.
Falando a jornalistas brasileiros antes de embarcar de volta ao Brasil, o presidente acrescentou que a solução para a Síria não pode vir "apenas pela força". A conversação, a via diplomática e o convencimento são fundamentais para isso".
Temer evitou condenar diretamente o ataque ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a bases militares do país do Oriente Médio, e apoiado pela Grã Bretanha e a França. Segundo Temer, a notícia na noite de sexta parecia mais "aflitiva", mas que a informação esta manhã mostrava que o ataque havia sido restrito.
O presidente condenou o uso de armas químicas por parte do governo sírio e pediu o engajamento da comunidade internacional em uma solução definitiva.
"Essas questões devem ser resolvidas com base no direito internacional. Por isso é importante que as Nações Unidas entrem nessa questão para resolver o conflito. Não se pode deixar isso quase eternamente, como vem acontecendo, prejudicando as ações internacionais e a região", afirmou.
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, afirmou que o Brasil repudia o uso de armas químicas mas está preocupado com o aumento das ações militares na Síria e defende uma solução política para a guerra civil naquele país.
"Estamos muito preocupados com o aumento das ações militares na Síria, assim como já estávamos, reitero, muito preocupados com as graves denúncias ataques químicos", disse o ministro a jornalistas em Lima, onde participa da Cúpula das Américas.
Forças norte-americanas, britânicas e francesas bombardearam a Síria com mais de 100 mísseis neste sábado nos primeiros ataques ocidentais coordenados contra o governo de Damasco, tendo como alvo o que chamaram de centros de armas químicas em retaliação a um ataque com gás venenoso, que acusam ser de responsabilidade do governo sírio.
"Aguardamos a conclusão o mais rápido possível das investigações no âmbito da Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas), para que se possa punir os responsáveis", acrescentou Aloysio Nunes. "O Brasil defende uma solução política negociada pelos sírios que preserve a unidade territorial do país."
O ministro disse ainda que entrou em contato com o pessoal diplomático brasileiro na capital síria, Damasco, e que "não houve danos colaterais".
Questionado se isso tirava importância da cúpula de Lima, o ministro brasileiro disse acreditar que não seja o caso.
Mas diplomatas brasileiros ouvidos pela Reuters afirmaram que o ataque tira a atenção de uma cúpula já esvaziada pela ausência do próprio Trump, e as dificuldades de tratar de temas centrais para a região, como a crise na Venezuela.
Em nota, o Itamaraty manifestou "grande preocupação" com a escalada do conflito militar e repetiu a fala de Temer e Aloysio, afirmando que a solução para a Síria passa pela Carta da ONU e pelo direito internacional. "O Brasil reitera o entendimento de que o fim do conflito somente poderá ser alcançado pela via política, por meio das tratativas sob a égide das Nações Unidas e com base nas resoluções do Conselho de Segurança", diz o texto.