Por Philip Pullella
A BORDO DO AVIÃO PAPAL (Reuters) - O Papa Francisco reconheceu nesta segunda-feira que seus recentes comentários sobre a Rússia, vistos pela Ucrânia como um elogio ao imperialismo, foram mal formulados e disse que sua intenção era lembrar os jovens russos de uma grande herança cultural, não política.
Falando aos repórteres a bordo de avião que retornava da Mongólia, Francisco também disse que quer assegurar à China, com a qual o Vaticano tem relações difíceis, que a Igreja Católica não tem segundas intenções e não deve ser vista como uma potência estrangeira.
"Eu não estava pensando em imperialismo quando disse isso", disse Francisco sobre seus comentários no mês passado.
Em um discurso improvisado para jovens católicos russos em uma videoconferência em 25 de agosto, Francisco falou dos antigos czares Pedro I e Catarina II -- ambos expandiram o território russo -- e disse aos ouvintes que eles eram os herdeiros do "grande império russo".
Os comentários causaram um alvoroço na Ucrânia, porque o presidente russo Vladimir Putin invocou os legados dos dois monarcas russos para justificar a invasão da Ucrânia e a anexação de seu território.
A declaração foi bem recebida pelo Kremlin, que elogiou o papa por seu conhecimento da história russa.
"Talvez não tenha sido a melhor maneira de dizer isso, mas ao falar da grande Rússia, eu estava pensando não tanto geograficamente, mas culturalmente", disse Francisco, mencionando o ícone literário russo Fiódor Dostoiévski, um de seus autores favoritos.
"Foi um comentário improvisado que me veio à mente porque estudei isso (história russa) na escola", disse ele, explicando por que mencionou Pedro e Catarina.
"A cultura russa é de grande beleza e profundidade. Ela não deve ser cancelada por causa de problemas políticos. Houve anos políticos sombrios na Rússia, mas o patrimônio está lá, disponível para todos", afirmou ele.
IGREJA NÃO É POTÊNCIA ESTRANGEIRA
Com relação às relações entre o Vaticano e a China, Francisco disse: "Acho que temos que avançar no aspecto religioso para nos entendermos melhor, para que os cidadãos chineses não pensem que a Igreja não aceita sua cultura e seus valores e (não pensem) que a Igreja representa outra potência estrangeira".
"As relações com a China são muito respeitosas. Pessoalmente, tenho grande admiração pelo povo chinês", acrescentou.
Os católicos do também comunista Vietnã, que recentemente melhorou suas relações com o Vaticano, viajaram para a Mongólia para ver o papa e disseram que queriam que ele visitasse seu país também.
Perguntado se visitaria o Vietnã, Francisco brincou: "Se eu não for, certamente João XXIV irá", disse ele, especulando sobre o possível nome de um futuro papa.
(Reportagem de Philip Pullella)