Por Nicolás Misculin e Adam Jourdan
BUENOS AIRES (Reuters) - Os peronistas voltaram ao poder na Argentina, no domingo, com o candidato Alberto Fernández derrotando o presidente neoliberal Mauricio Macri com uma vantagem confortável, em uma eleição que desloca a terceira maior economia da América Latina para a esquerda depois de sofrer uma profunda crise econômica.
Fernández, de centro-esquerda, obteve 48,02% dos votos, à frente dos 40,45% de Macri, com quase 96% dos votos apurados, ficando acima do limite de 45% para evitar um segundo turno e vencer a eleição imediatamente.
Macri, falando em seu partido eleitoral, reconheceu a derrota e parabenizou Fernández. Ele disse que convidou o adversário político ao palácio presidencial para discutir uma transição ordenada, considerada essencial para a economia e os mercados da Argentina.
Fernández, falando ao lado da companheira de chapa Cristina Kirchner, disse que se encontrará com o atual presidente e colaborará com o atual governo "da maneira que pudermos".
"Os tempos à frente não são fáceis", disse ele a apoiadores em seu partido eleitoral. "Mas é claro que colaboraremos em tudo que pudermos, porque a única coisa que nos preocupa é que os argentinos parem de sofrer de uma vez por todas".
Multidões eufóricas comemoraram na sede de campanha de Fernández. "Esta vitória retumbante no primeiro turno é uma expressão muito clara do povo argentino", disse Felipe Solá, um dos conselheiros mais próximos de Fernández no partido "Frente por Todos".
Um candidato precisa de 45% dos votos, ou 40% e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado, para evitar um segundo turno.
Fernández era o franco favorito desde que obteve uma vitória contundente nas primárias de agosto -- uma dianteira que ele manteve nas pesquisas de opinião na véspera da eleição.
"Alberto venceu e estou super feliz. Atravessamos quatro anos muito duros", disse Paola Fiore, servidora pública de 35 anos, à Reuters na sede eleitoral de Fernández. "O entusiasmo e as expectativas que temos são porque sabemos que um governo que pensa no povo voltou".
O clima estava bem mais contido na sede do partido de Macri, do outro lado da cidade, embora sua coalizão "Juntos pela Mudança" tenha se saído muito melhor do que muitas pesquisas haviam previsto.
A votação terá implicações abrangentes. A Argentina é um dos maiores exportadores de grãos do mundo, está alvoroçando o setor energético com seu enorme campo de xisto de Vaca Muerta e está prestes a iniciar conversas com credores para reestruturar uma dívida de mais de 100 bilhões de dólares.
A economia foi o tema central, já que o país passou a maior parte do último ano mergulhado em uma recessão, as perspectivas de crescimento recuaram, a inflação anual passa dos 50%, os número do emprego pioram e a pobreza aumenta consideravelmente.
Mas outros eleitores disseram temer a volta da esquerda peronista, que culpam por ter deixado a economia despedaçada quando Macri tomou posse em 2015. Apoiadores do presidente dizem que ele precisava de mais tempo para resolver as coisas.
"Embora tenham sido quatro anos complexos, tenho esperança de que Macri consiga resolver", disse Pablo Nicolás, contador de 36 anos, ao votar. Ele disse não confiar na ex-presidente Cristina Kirchner.
Macri conquistou apoiadores com planos para reformar a economia notoriamente fechada da Argentina com acordos comerciais e uma iniciativa bem-sucedida para atrair investimento estrangeiro para projetos de energia e infraestrutura.
Seus planos de reforma foram duramente afetados em 2018, quando uma crise monetária e fiscal o obrigou a fechar um acordo de eventuais 57 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para ajudar a Argentina a pagar suas contas.
Agora Fernández assumirá o cargo de Macri e as negociações com credores, incluindo o FMI, a respeito da reestruturação de mais de 100 bilhões de dólares de dívida soberana em meio a temores de que a nação tenha que enfrentar um calote danoso.
A maioria dos investidores já computava uma vitória da oposição peronista, mas um grande triunfo pode desencadear uma nova volatilidade nos mercados, já limitados pelos controles de capital recém-impostos.
(Por Nicolas Misculin, Adam Jourdan, Marina Lammertyn, Hugh Bronstein, Maximilian Heath, Cassandra Garrison, Aislinn Laing, Eliana Raszewski, Gabriel Burin, Joan Manuel Santiago Lopez, Juan Bustamante e Miguel Lo Bianco)