Por Fatos Bytyci
PRISTINA (Reuters) - Tropas de choque entraram em confronto com manifestantes que respondiam lançando pedras e bombas de gasolina em Pristina, capital do Kosovo, nesta terça-feira, no mais grave distúrbio social desde a secessão da ex-província sérvia em 2008.
Provocada por comentários feitos por um ministro de etnia sérvia e por uma contenda em torno de uma disputada mina, a violência foi um poderoso sinal de descontentamento no Kosovo, território de maioria albanesa e ainda afundado em pobreza e corrupção sete anos depois de declarar independência da Sérvia.
Um repórter da Reuters viu policiais mascarados atirando gás lacrimogêneo e usando canhões de água para dispersar cerca de 2.000 manifestantes que se juntaram aos protestos organizados por partidos políticos oposicionistas. Os manifestantes também atearam fogo em lixeiras.
Ambulâncias atendiam pessoas feridas enquanto policiais perseguiam manifestantes em ruas laterais do centro de Pristina. A polícia disse que 56 policiais ficaram feridos, dois deles gravemente.
Não havia informações imediatas sobre quantos manifestantes ficaram feridos. Mais de 120 foram presos. A polícia disse ter usado balas de borracha para dispersar aglomerações.
O primeiro-ministro do Kosovo, Isa Mustafa, há apenas seis semanas no cargo, acusou seus opositores de tentarem tomar o poder à força.
"Todos esses partidos políticos aceitaram os resultados eleitorais", disse ele. "Eles precisam respeitar o voto dos cidadãos e não tentar tomar o poder através da violência."
Gás lacrimogêneo e fumaça ainda pairavam no ar seis horas depois da violência, que somente se acalmou após o anoitecer.
RECUO
Foi o segundo episódio violento desde sábado, na esteira de uma revolta popular causada pelo recuo do governo em relação ao destino de um enorme complexo de mineração reivindicado pela Sérvia, e também pelos comentários considerados ofensivos de um ministro de etnia sérvia.
O governo de Mustafa prometeu assumir o controle da mina Trepca, que tem sido administrada por um organismo de privatização da Organização das Nações Unidas (ONU) desde a guerra do Kosovo, entre 1998 e 1999, e é ameaçada por alegações provenientes de vários credores.
Mas o presidente recuou dias depois ante uma resposta furiosa da Sérvia, que reivindica a propriedade de 75 por cento do complexo, e pressão das embaixadas ocidentais, preocupadas com as possíveis repercussões que a disputa pode ter sobre uma frágil negociação mediada pela União Europeia entre os dois lados.
As minas de chumbo, zinco e prata de Trepca chegaram a ser responsáveis por 75 por cento de toda riqueza mineral da antiga Iugoslávia, empregando 20.000 operários. Hoje, funciona a um nível mínimo para manter as minas operacionais.
Os manifestantes também pediram a demissão de um ministro de etnia sérvia, membro do governo de maioria albanesa do Kosovo, após ele ter rotulado como "selvagens" os membros de um grupo de albaneses que perderam parentes na guerra e protestaram contra a presença de peregrinos de etnia sérvia por ocasião das comemorações do Natal Ortodoxo, em janeiro.
O território do Kosovo, com 1,8 milhão de habitantes, 90 por cento deles de etnia albanesa, declarou independência em 2008 e desde então foi reconhecido por mais de 100 países.