Por David Lawder e Jonathan Landay
WASHINGTON (Reuters) - Washington é uma fortaleza armada, cercada por arame farpado e por 25.000 soldados da Guarda Nacional antes da posse do presidente eleito, Joe Biden, na quarta-feira, um forte contraste com as cerimônias anteriores, quando a capital dos Estados Unidos era palco de dias de celebração.
A pandemia de Covid-19 já havia cancelado os bailes tradicionais. Agora, o National Mall está fechado ao público devido às ameaças de violência de grupos que atacaram o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro. Quase nenhum público testemunhará pessoalmente a passagem de poder.
"É como uma cidade fantasma, mas com soldados", disse Dana O'Connor, que caminhou com o marido passando por barreiras de concreto perto da Casa Branca no domingo. "É assustador. Parece sobrenatural."
As posses anteriores chegaram a atrair mais de um milhão de espectadores ao National Mall, para assistir à cerimônia em telas gigantes de televisão e ao novo presidente desfilando a pé do Capitólio até a Casa Branca. Bailes e festas em salões de convenções e hotéis em toda a cidade homenageavam os convidados com champanhe e música de estrelas de primeira linha.
As posses presidenciais são normalmente eventos de alta segurança, com detectores de metal nos principais pontos de entrada, zonas restritas com identificação e a Guarda Nacional complementando a atuação de autoridades locais e federais. Mas o nível de precaução este ano não tem precedentes.
A prefeita de Washington, Muriel Bowser, disse no domingo que as autoridades não tinham escolha a não ser aumentar a segurança após o ataque mortal ao Capitólio.
"Não queremos ver barreiras. Definitivamente, não queremos ver soldados armados em nossas ruas. Mas temos que adotar uma postura diferente", afirmou Bowser no programa "Meet the Press", da NBC.
A cidade verá pouco do aumento de 107 milhões de dólares em receita de impostos que uma semana de posse normalmente traz, estima o Downtown DC Business Improvement District.
Para uma nação que se orgulha de ser uma referência para a democracia em todo o mundo, a posse de Biden parece tudo, menos uma transição pacífica de poder, disse Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia.
"O mundo verá Biden empossado, no meio de um campo militar que não se pode distinguir da Zona Verde", declarou Sabato, referindo-se a uma área no centro de Bagdá que parecia uma fortaleza estabelecida após a Guerra do Iraque.
Sabato compareceu a todas as posses desde a segunda de Richard Nixon em 1973, e ao juramento de Ronald Reagan em 1985, que foi realizado em ambiente fechado por causa do frio intenso. Mas ele não comparecerá a esta.
O Serviço Secreto incorporou o termo "Zona Verde" em seus mapas de segurança de posse, e os moradores do Distrito de Columbia começaram a usar o apelido para a vasta área restrita que vai de dois quarteirões a leste do Capitólio até o Rio Potomac a oeste do Lincoln Memorial.
O Distrito de Columbia, um dos locais com mais eleitores democratas proporcionalmente dos Estados Unidos, garantiu uma votação de 92% para Biden em novembro, tornando a situação atual ainda mais dolorosa para muitos residentes.
(Reportagem de David Lawder, Jonathan Landay e Katy Daigle)