Por Jack Stubbs e Polina Devitt
MOSCOU (Reuters) - A Rússia não vê a manutenção do presidente da Síria, Bashar al-Assad, no cargo como questão de princípio, afirmou o Ministério das Relações Exteriores russo nesta terça-feira, sugerindo uma divergência de opinião com o Irã, outro grande apoiador internacional do líder sírio.
Alimentando a especulação sobre as diferenças entre Rússia e Irã a respeito de Assad, o chefe da Guarda Revolucionária iraniana deu a entender na segunda-feira que o Irã pode estar mais comprometido com Assad do que os russos, declarando que Moscou "pode não se importar tanto quanto nós se Assad continua no poder".
Embora Rússia e Irã venham se mostrando os apoiadores externos mais destacados de Assad durante os mais de quarto anos de guerra civil na Síria, os Estados Unidos, seus aliados no Golfo Pérsico e a Turquia vêm insistindo que o presidente sírio deve sair para haver um acordo de paz no futuro.
Na sexta-feira da semana passada, os principais envolvidos na busca por uma solução à crise síria se reuniram em Viena, mas o esforço diplomático para se chegar a um entendimento sobre Assad fracassou.
Questionado por um repórter nesta terça-feira se Assad é uma questão de princípio para a Rússia, a porta-voz das Relações Exteriores, Maria Zakharova, afirmou: "De forma nenhuma, nunca dissemos isso."
"Não estamos dizendo que Assad deveria ficar ou sair", afirmou ela, segundo a agência de notícias RIA.
Mas outra mudança de regime no Oriente Médio poderia ser uma catástrofe que "poderia simplesmente transformar a região toda em um grande buraco negro", acrescentou.
Zakharova disse que a Rússia não alterou sua política em relação a Assad e que seu destino deveria ser decidido pelo povo sírio, mas seus comentários pareceram insinuar uma diferença de abordagem quando comparada ao Irã, que enviou forças para lutar ao lado dos militares sírios e ainda ordenou a participação de combatentes do grupo libanês Hezbollah, controlado pelos iranianos.
A Rússia "pode não se importar tanto quanto nós se Assad continua no poder", afirmou o comandante da Guarda Revolucionária, major-general Mohammad Ali Jafari, de acordo com a agência de notícias Tasnim na segunda-feira. Mas ele acrescentou: "Não conhecemos nenhuma pessoa melhor do que ele para substitui-lo."
A Rússia interveio militarmente no fim de setembro para ajudar Assad lançando ataques aéreos contra grupos rebeldes que querem depor o presidente sírio.