Por Anthony Deutsch
AMSTERDÃ (Reuters) - A Síria deu início à longamente adiada destruição de vários abrigos subterrâneos e hangares que foram usados para a produção e o armazenamento de armas químicas, disseram fontes diplomáticas à Reuters nesta segunda-feira.
No ano passado, o país entregou 1.300 toneladas métricas de agentes tóxicos depois de se filiar à Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), mas está meses atrasado no cronograma de destruição das instalações utilizadas para fabricar e guardar seu estoque mortífero.
O trabalho num primeiro túnel começou em 24 de dezembro, mas foi adiado pelas tempestades do inverno. O local será lacrado com paredes de cimento até o fim de janeiro, segundo uma fonte em Haia, sede da agência de monitoramento de armas químicas.
"O trabalho finalmente começou, o que é uma boa notícia", disse outra fonte. "Houve algumas questões técnicas, e o mau tempo desacelerou o processo."
A Síria se juntou à Opaq depois que um ataque com gás sarin matou mais de mil pessoas em Ghouta, subúrbio de Damasco, em 21 de agosto de 2013, o que levou a ameaças de intervenção militar dos Estados Unidos, que responsabilizaram o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad. O gabinete de Assad e rebeldes envolvidos na guerra civil do país culparam uns aos outros pelo ataque.
O presidente dos EUA, Barack Obama, desistiu da ação militar contra Damasco depois que a Síria concordou em destruir seu estoque químico. Um ano mais tarde, os EUA iniciaram uma campanha de bombardeios contra militantes do Estado Islâmico na Síria com o apoio tácito de Assad, e os ataques continuam.
Mais de 200 mil pessoas foram mortas e milhões ficaram desabrigadas no conflito interno sírio desde março de 2011.
O chefe da Opaq deve apresentar um informe atualizado sobre a destruição dos locais de produção e armazenamento da Síria, parte de suas obrigações como membro da entidade, para governos estrangeiros em reuniões a portas fechadas em Haia na quarta-feira.
Os detalhes técnicos de como os sete hangares serão demolidos com explosivos ainda estão sendo elaborados com especialistas na Opaq, afirmaram as fontes. Elas se recusaram a se identificar, mas compartilharam informações sobre o programa antes de ser divulgado oficialmente.
Os atrasos sucessivos na eliminação das instalações levaram a queixas de Washington no mês passado, quando o representante norte-americano na Opaq, Bob Mikulak, pediu à Síria que acelerasse o processo, que ocorre sob rígido monitoramento externo.
Uma missão de reconhecimento da entidade vem investigando o uso de bombas de gás clorino, que mataram e feriram dezenas de pessoas em vilarejos sírios, uma violação da Convenção de Armas Químicas e de resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Síria.
Damasco nega as alegações de governos ocidentais de que reteve parte de seu estoque de armas químicas.
Diplomatas do Ocidente declararam que a Síria não foi capaz de oferecer nenhuma documentação sobre o programa de armas químicas, que foi desenvolvido durante décadas e produziu vastas quantidades de agentes tóxicos contra o sistema nervoso para uso em combate.