Por Chris Prentice
(Reuters) - Regulações de biocombustíveis nos Estados Unidos, que exigem a mistura de etanol à base de milho na gasolina, recentemente criaram um elenco diversificado de adversários políticos.
Entre eles estão um grupo comercial de proprietários de postos de gasolina, um ex-assessor ambiental do governo Obama e o ativista e investidor bilionário Carl Icahn, que possui uma refinaria e serviu como assessor especial do presidente norte-americano Donald Trump em regulação de negócios --até ele renunciar na sexta-feira em meio a alegações de conflito de interesse.
Até mesmo a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês), um dos principais grupos da indústria de biocombustíveis, recentemente deixou de lado sua oposição às mudanças políticas buscadas por essa coalizão.
Essas figuras aparentemente teriam poucos interesses em comum, mas eles dividem uma importante conexão --laços estreitos com a Valero Energy Corp (NYSE:VLO), a maior refinaria de petróleo dos Estados Unidos.
Como parte de uma extensa campanha de lobby nos bastidores, a Valero desempenhou um importante papel em unir essas pessoas e grupos ao redor de uma proposta de política que poderia economizar à refinaria milhões de dólares todos os anos em custos regulatórios, segundo dois ex-executivos da Valero com conhecimento das estratégias de lobby da companhia.
A Valero é uma das grandes prejudicadas sob as atuais regulações, que exigem que as refinarias ou misturem biocombustíveis em sua gasolina e diesel ou comprem créditos emitidos pelo governo de empresas que façam esse tipo de mistura.
Após vender grande parte de suas operações de mistura de etanol em acordos de arrecadação de dinheiro em 2006 e 2013, a Valero foi forçada a gastar 750 milhões de dólares só no ano passado na compra dos créditos, segundo registros da Valero.
A reforma nas políticas apoiada pela Valero libertaria refinarias da obrigação de misturar biocombustíveis ou comprar créditos, passando esse fardo para empresas mais abaixo na cadeia de abastecimento em direção a distribuidoras.
Tal mudança corresponderia a uma transferência de riqueza de vários bilhões de dólares para a Valero. Ela também beneficiaria a companhia de refino de Icahn, a CVR Energy, e uma série de outras refinarias que não possuem operações de mistura.
Importantes autoridades da Valero querem que outros ajam como a face pública do esforço para reverter a política de combustíveis renováveis, disseram os ex-executivos da empresa à Reuters.
"Houve um esforço para alinhar pessoas que nos apoiariam e que tinham maior aceitação com tomadores de decisão", disse um dos ex-funcionários. "É mais fácil apoiar um pequeno negócio do que uma grande companhia de refino."
Em resposta aos questionamentos da Reuters, a Valero ressaltou que criticou publicamente as atuais regulações. A porta-voz Lilian Riojas chamou as leis de nocivas para "trabalhadores, pequenas distribuidoras, consumidores, a base de refino, segurança energética e até mesmo a procura por mais mistura de biocombustíveis."
A Valero se uniu a petições para mudar a lei, processou a EPA, e enviou executivos para desafiarem a política em conferências da indústria. Mas seu lobby mais abrangente e menos visível serviu a um propósito --de criar uma percepção de maior apoio para uma mudança que beneficiaria principalmente a Valero e um pequeno número de outras refinarias.
O esforço para mudar o chamado "ponto de obrigação para a mistura de biocombustíveis tem oposição da maioria dos produtores de etanol e grandes companhias integradas de petróleo que possuem unidades de mistura. Eles argumentam que a mudança iria atrair centenas de companhias adicionais --de distribuidores de gasolina a transportadores como o FedEx-- e comprometer o programa ao complicar a aplicação.
O governo Trump disse que está avaliando as mudanças regulatórias, mas não anunciou uma decisão.
No início de agosto, três fontes familiarizadas com as deliberações sobre a política de biocombustíveis da gestão disseram à Reuters que a EPA estava se preparando para rejeitar propostas para a mudança. A Casa Branca não quis comentar e direcionou as perguntas à EPA, que não respondeu aos pedidos de comentário.
Estrategistas da Valero viram Icahn como um melhor defensor público da mudança à política de biocombustíveis apesar de ele ser o principal proprietário de uma pequena refinaria, disseram os dois executivos da Valero. Isso porque o famoso investidor de Wall Street tem uma gama diversa de interesses de negócio e acesso único a Trump, um antigo amigo.
"Nosso pessoal queria envolver ele", disse um dos executivos da Valero, que estava regularmente envolvido em discussões da companhia sobre o lobby de biocombustíveis.
Quando Icahn escreveu à EPA em agosto de 2016 para pressionar por uma mudança na política --argumentando que as atuais regras atualmente criam um "mercado falseado"--, representantes da Valero o ajudaram a produzir a carta, disse o executivo.
A Valero não quis comentar sobre seu papel em montar a proposta de Icahn. Jesse Lynn, um advogado de Icahn, disse que o bilionário "buscou contribuições de uma série de pessoas" na carta, mas não quis nomeá-los.
Pouco após ser eleito, Trump nomeou Icahn como seu assessor especial de regulações, um cargo informal.
Icahn deixou o cargo na sexta-feira após enfrentar críticas de que ele estava aconselhando Trump sobre mudanças políticas que enriqueceriam seu negócio de refino. Icahn negou quaisquer conflitos de interesse em uma carta a Trump no fim da sexta-feira.
"Eu nunca busquei nenhum benefício especial para qualquer companhia que eu estive envolvido, e só expressei opiniões que eu acreditava que beneficiariam a indústria de refino como um todo", escreveu.
A Casa Branca disse que não há nenhum conflito de interesse entre o negócio de refino de Icahn e sua defesa de políticas de biocombustíveis porque ele não era pago como assessor presidencial.
(Com reportagem adicional de Erwin Seba)