Investing.com - A eleição chegou ao fim e com ela a confirmação da escolha de Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência da República. Para o investidor, a pergunta que fica no ar é: e agora, o que vai acontecer com a bolsa e o dólar? Os preços já estavam precificados na última semana?
Assim que o resultado oficial foi confirmado na noite de ontem, a XP Investimentos divulgou para seus clientes o “Guia pós-eleições 2018”, traçando os possíveis cenários trazidos após a vitória do candidato pró-mercado.
A XP trabalha com um cenário base com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo entre 1,5% e 2,5% em 2019, podendo variar para 3% a 4%, em um cenário otimista e de 0% a 1% em um pessimista. Para o dólar comercial, as incertezas externas devem fazer a moeda permanecer entre R$ 3,70 e R$ 4,00, variando entre R$ 3,50 e R$ 3,70 em um contexto positivo e de R$ 4,50 a R$ 5,00 no negativo.
Para o IPCA, a XP trabalha com 4,25% no ano que vem, podendo ir a 4,20% no melhor cenário, ou a 5,00% no pior. Com isso, a Selic deve fechar o próximo ano no intervalo entre 8% e 9%, mas pode ficar entre 7,5% a 8,5% na melhor das hipóteses, e de 10% a 11% na pior.
Com isso, a aposta da XP é que o Ibovespa fecha o próximo ano entre 105 e 115 mil pontos, no cenário base. No otimista, a aposta avança para 120 a 130 mil pontos, caindo para 75 a 85 mil no pessimista.
Para a corretora, os desafios são grandes e a execução no campo das reformas será crucial para o futuro da economia e sustentabilidade de um ambiente mais positivo. Na visão dos analistas, Paulo Guedes, possivelmente no novo ministro da Fazenda, deve trazer propostas liberais, com viés mais reformista. Apesar disso, há ainda uma preocupação com a postura de Bolsonaro, que ainda não deixou claro quais as propostas que vai dar prioridade.
Para a XP, em um primeiro momento, o capitão reformado terá o benefício da dúvida do mercado, em um cenário bastante desafiador.
Primeiro momento: lua de mel
A corretora entende que como o primeiro momento deve ser favorável, a bolsa deverá fechar o ano entre os 90 e 100 mil pontos, o que representa uma alta de 10% a 20% dos níveis atuais, com a curva de juros a precificar a Selic em 7,5 a 8,5% em 2020, 10% 2030 (0,5-1% abaixo do atual) e em relação ao dólar, ele pode cair no curto prazo para o nível de R$ 3,50 a R$ 3,70. Apesar disso, a XP vê a moeda americana entre R$ 3,70 e R$ 4,00 como mais adequado dado o cenário de risco externo.
Os analistas destacam que esse cenário só se torna sustentável em um ambiente que as reformas sejam aprovadas ao longo de 2019, com a bolsa podendo alcançar os 125 mil pontos no final de 2019.
O primeiro ano de uma nova era
Os movimentos políticos que vão começar com novo mandato do presidente eleito devem trazer importantes transformações para o Brasil, com reflexo para as próximas décadas. A XP entende que as ruas seguirão ativas, as redes sociais participativas, surgindo a necessidade dos partidos, as organizações políticas e o Estado de se adaptar.
Para a XP, Bolsonaro deve conseguir uma frente de apoio no Congresso, o que permitiria avanço nas tão requisitadas reformas, mas os desafios serão grandes desde já.
Prioridade: Reforma da Previdência?
Membros da equipe de Bolsonaro já disseram que essa deve ser a prioridade do novo governo, mas isso precisa ainda ser confirmado. Por isso, será muito importante acompanhar a transição do “candidato eleito” para “novo presidente”, permitindo ter uma ideia mais clara de seu governo. Isso será importante principalmente porque as propostas passaram longe do debate eleitoral.
A XP lembra que o país possui as contas públicas pressionadas e existe pouca flexibilidade para corte de gastos. Sendo a Previdência é a principal despesa do governo, representando em torno de 60% do orçamento federal, será o gasto que mais cresce por conta do rápido envelhecimento populacional. Para os analistas da corretora, se nada for feito, em 2030 a despesa com previdência chegará a 70% do orçamento federal, podendo, a exemplo de alguns estados, faltar dinheiro para serviços básicos, com queda na confiança, no investimento e aumento do desemprego.
Bolsa em 2019
Para Karel Luketic, estrategista-chefe da XP, a bolsa trabalha atualmente 5% abaixo do histórico, a 10,5x lucro de 2019, tendo um potencial atrativo. A valorização deve se dar por meio da revisão positiva de estimativas para 2019-20; redução da taxa de desconto; entrada de capital estrangeiro; e gradual aumento da alocação para a bolsa no Brasil, com cenário de juros baixos por mais tempo. A principal variável, segundo Luketic, é a evolução da agenda de reformas.