Por Andrew Cawthorne e Vivian Sequera
CARACAS (Reuters) - Durante os quatro meses que passou em uma cela pequena de uma prisão militar, o vice-presidente do Congresso da Venezuela marcou os dias em uma parede com um palito de dente, fez uma greve de fome e criou uma amizade improvável com dois generais que caíram em desgraça com o governo socialista.
"Foi uma experiência bem dura", disse à Reuters o líder da oposição Edgar Zambrano, de 64 anos, sobre seu tempo na cela 12A da base Forte Tiuna, em Caracas, onde foi mantido devido a uma acusação de traição do governo do presidente Nicolás Maduro.
"Usamos muitos mecanismos para sobreviver."
Em uma das prisões de maior repercussão nos últimos tempos no país, agentes de inteligência interceptaram Zambrano depois que ele saiu da sede de seu partido Ação Democrática no dia 8 de maio.
Uma aparição de madrugada em uma ponte ao lado do líder do Congresso, Juan Guaidó --que invocou a Constituição para se autodeclarar presidente interino-- durante um levante militar fracassado uma semana antes foi o catalisador de sua detenção.
Depois que Zambrano se recusou a sair de seu veículo, agentes de segurança o rebocaram em um caminhão. Seu motorista e três funcionários do Congresso que ele disse estarem pegando carona até uma estação do metrô continuam presos.
"Eles não são um perigo para ninguém, só estavam obedecendo minha ordem de não abrir a porta", disse.
Embora Zambrano tenha sido libertado duas semanas atrás, graças à pressão internacional, seu caso continua aberto, o que significa que ele tem que comparecer perante um juiz a cada 30 dias e não pode viajar ao exterior.
Mas ele voltou a trabalhar na Assembleia Nacional, controlada pela oposição, um bastião dos esforços para depor Maduro.
Embora Guaidó seja reconhecido por dezenas de nações, incluindo o Brasil, Maduro, que sucedeu o falecido presidente Hugo Chávez, ainda controla a Venezuela graças à lealdade dos militares e do apoio de Rússia e China.
Em uma longa reflexão sobre sua prisão, Zambrano disse que ficou sozinho na cela de 3 por 3 metros, onde usou um palito de dente que tinha no bolso por acaso para gravar os 135 dias transcorridos até ser solto. Ele recusou alimento durante 11 dias e disse que deixou a prisão 35 quilos mais magro e com problemas de estômago.
Em seu bloco só havia mais dois presos: o ex-ministro do Interior Miguel Rodríguez e o ex-ministro da Defesa Raúl Baduel, ambos dissidentes do regime.
"A necessidade nos aproximou. E hoje eles são pessoas sérias, críticas do governo."