Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu nesta quinta-feira a mudança da posição brasileira e o voto contra a resolução da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que condena o embargo dos Estados Unidos a Cuba como uma defesa da "verdade" e disse que é hora de parar de "bajular Cuba".
"Nada nos solidariza com Cuba", escreveu o ministro em uma série de oito posts em sua conta no Twitter. "Os países em desenvolvimento votam sempre a favor de Cuba. Desta vez o Brasil votou a favor da verdade."
A resolução contra o embargo é apresentada todos os anos na Assembleia-Geral da ONU desde 1992 e, na verdade, argumenta que o embargo é contrário ao livre comércio e à livre navegação internacional.
Este ano, como nos anteriores, a resolução foi aprovada com votos favoráveis de países em desenvolvimento e países desenvolvidos --187 votos favoráveis no órgão que tem 193 membros. Apenas Estados Unidos, Israel e Brasil votaram contra, com Colômbia e Ucrânia se abstendo. Moldávia deixou de votar.
A resolução, que foi aprovada por esmagadora maioria pelo 28º ano seguido, tem peso político, mas somente o Congresso dos EUA pode colocar fim ao embargo, que dura mais de 50 anos.
Segundo o ministro, Cuba nos últimos 60 anos se tornou "um centro regional de promoção e assistência a ditaduras comunistas" e tentou impor esse modelo na América Latina através do Foro de São Paulo.
"Cuba é hoje o principal esteio do regime Maduro na Venezuela, o pior sistema ditatorial da história do continente", defendeu. "Então chega de bajular Cuba. A influência que Cuba possui entre os países em desenvolvimento no sistema ONU é uma vergonha e precisa ser rompida."
A Reuters consultou o Itamaraty sobre uma posição oficial a respeito do voto e foi informada de que a manifestação seria feita pelo chanceler através da sua rede social.
O voto brasileiro foi mais um sinal forte do alinhamento do governo brasileiro com o presidente norte-americano Donald Trump, de quem o presidente Jair Bolsonaro já se declarou fã. A decisão, no entanto, rompeu não apenas com a tradição diplomática brasileira na ONU, mas com a defesa do livre comércio que até hoje caracterizou a ação internacional do país.
O embaixador brasileiro na ONU, Mauro Vieira, tentou nas últimas semanas reverter a decisão do Itamaraty para que o Brasil pelo menos optasse por uma abstenção, mas sem sucesso.