Este artigo oferecerá uma visão ampla sobre a empresa Vale S.A. (antiga Vale do Rio Doce), abordando desde sua história e privatização até os resultados financeiros recentes e o que a empresa faz atualmente. Exploraremos as ações, cotações e dividendos, assim como os principais produtos da empresa e o faturamento da Vale. Além disso, trataremos questões como a liderança, donos, e impacto ambiental da companhia
O que é a mineradora Vale?
A Vale S.A. é uma empresa de capital aberta com ações negociadas na bolsa de valores de São Paulo, Nova York e Hong Kong. É uma das maiores mineradoras do mundo, com atuação global e presença em mais de 20 países, com cerca de 120 mil empregados próprios e terceiros nos 5 continentes. Fundada no Brasil, a empresa se destaca por ser a maior produtora de minério de ferro, pelotas e níquel.
A mineradora também atua na produção de outros minerais essenciais para a indústria, como o manganês, ferroligas, cobre, ouro, prata e cobalto. Além de mineração, a Vale é um dos maiores operadores logísticos do Brasil – com cerca de 2 mil quilômetros de malha ferroviária e 9 terminais portuários próprios -, opera nove usinas hidrelétricas em três países e também atua no setor siderúrgico.
História da Vale
A Vale foi criada em 1942 pelo governo brasileiro, fruto do acordo do Brasil com os países aliados (EUA e Inglaterra) na Segunda Guerra Mundial e dentro do contexto de industrialização do país durante o governo de Getúlio Vargas. O nome original, Companhia Vale do Rio Doce, referia-se ao rio homônimo que atravessa Minas Gerais e Espírito Santo, regiões ricas em minério de ferro.
Nos primeiros anos, a produção de minério de ferro foi pequena, com a baixa demanda pelo mineral pelas siderúrgicas nacionais, entre as quais a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A internacionalização começou nos anos 1950, com a abertura de escritórios no exterior e a conquista de novos mercados.
Nos anos 1960, a então estatal Vale do Rio Doce fez um acordo com o Japão para fornecer, em prol da reconstrução do país asiático após a destruição na Segunda Guerra Mundial, o minério de ferro extraído do Brasil. Esse acordo nipo-brasileiro permitiu à Vale se tornar a maior exportadora mundial de minério de ferro do mundo, posição que ocupa até hoje.
Nos anos 1970, a mineradora iniciou sua expansão produtiva para o ouro. Foi nesse período que iniciou os estudos técnicos e de viabilidade do Complexo de Eldorado dos Carajás, no estado do Pará, o maior complexo minerador do Brasil.
A empresa deixou de ser estatal em 1997, com a privatização realizada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (ver mais abaixo). Nos anos 2000, a empresa foi beneficiada pela disparada de preço do minério de ferro com o grande apetite chinês pelo minério de ferro para abastecer o forte crescimento de sua economia. Isso propiciou a intensificação da expansão internacional da Vale e diversificação produtiva por meio de aquisições, como a mineradora produtora de níquel Inco em 2006.
Na década seguinte, as barragens de rejeitos de mineração da Vale se romperam e provocaram dois grandes acidentes ambientais, resultando em centenas de mortes. O primeiro acidente foi na barragem de Mariana (MG), em novembro de 2015, controlada pela Samarco, uma joint-venture entre a Vale e a BHP Billiton. Foram despejados um volume total de 62 milhões de metros cúbicos de lama com rejeitos, que chegou às águas do Rio Doce e impactando municípios de Minas Gerais e Espírito Santo.
O segundo acidente foi em janeiro de 2019. A barragem de rejeitos localizada em Brumadinho (MG). É considerado o maior acidente de trabalho no Brasil e resultou na morte de 270 pessoas.
A década de 2020 é o momento de recuperação da imagem da empresa por meio de ações de sustentabilidade e de investimentos em minerais que são matérias-primas para a transição energética. Além disso, o preço do minério de ferro está sem o desempenho visto 20 anos antes devido, desta vez, ao enfraquecimento do crescimento econômico chinês. Os preços mais baixos do minério de ferro impactam a lucratividade da Vale, mas os custos baixos de produção deixam a mineradora brasileira entre as mais competitivas do setor diante de situações econômicas adversas.
Privatização da Vale
A privatização da Vale ocorreu em 1997, durante o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, como parte do Programa de Desestatização do governo brasileiro. A venda da Vale gerou grande polêmica, pois muitos acreditavam que uma empresa estratégica estava sendo vendida por um valor abaixo do seu real potencial ao considerar apenas o valor patrimonial da estatal, deixando de lado do cálculo do valor de venda o potencial das reservas em possessão da mineradora.
No entanto, foram vendidas menos de um quarto do capital total da estatal no processo de privatização, o que levou empresas brasileiras de grande porte, como a Votorantim, a desistir do leilão devido ao preço elevado. Inclusive, o grupo vencedor fez a aquisição com financiamento subsidiado pelo BNDES, que teve posição nas ações da Vale até 2021.
Os vencedores do leilão foram a CSN, a Litel Participações, a Eletron S/A (liderado pelo Banco Opportunity) e o Sweet River reunidos no Consórcio Brasil, que criou em seguida a holding Valepar para administrar a Vale. A CSN fez uma operação com o fundo de pensão Previ e a Bradespar que culminou a sua saída da holding da Vale. A siderúrgica se desfez de suas ações da mineradora em troca de ações da própria siderúrgica em posse da Previ e a Bradespar.
Apesar das críticas, a privatização trouxe mudança significativa na administração da Vale e a levou a um forte crescimento internacional, levando maior eficiência, competitividade, diversificação e aumento de produção para a empresa.
O que a Vale produz?
A principal atividade econômica da Vale é a mineração. A empresa é a maior produtora de minério de ferro, de pelotas e de níquel do mundo. A mineradora tem um portfólio diversificado de produção. Veja abaixo os principais produtos da mineradora:
- Minério de Ferro: É o principal produto da Vale, responsável por grande parte de seu faturamento. Esse minério é essencial para a produção de aço, amplamente utilizado nas indústrias de construção, infraestrutura e fabricação de veículos.
- Níquel: A Vale é uma das maiores produtoras de níquel do mundo. Esse metal é importante para a produção de baterias (incluindo as de veículos elétricos), além de ser amplamente utilizado em ligas de aço inoxidável e produtos resistentes à corrosão.
- Cobre: Muito utilizado em aplicações elétricas, construção civil e na fabricação de produtos eletrônicos. A produção de cobre pela Vale contribui para a diversificação de seus negócios.
- Carvão: Embora menor em comparação aos outros, a Vale também possui operações de carvão, usado principalmente na produção de energia e na indústria siderúrgica. Contudo, a empresa tem reduzido seu envolvimento nessa área devido a mudanças em suas prioridades ambientais.
- Cobalto: Um subproduto da extração de níquel, utilizado principalmente em baterias de íon-lítio para dispositivos eletrônicos e veículos elétricos.
A Vale tem presença também no setor de logística e energia, ambas para dar suporte à mineração, atividade principal da companhia. A empresa investe em ferrovias, navios de grande porte e portos para transportar seus minerais das minas até os seus clientes.
Por ter mais de 2 mil quilômetros de malha ferroviária no Brasil, a Vale terceiriza parte delas para terceiros, além de operar duas linhas férreas de passageiros (Estrada de Ferro Vitória a Minas e Estrada de Ferro Carajás). A Vale também é proprietária de portos no Brasil, na Indonésia, na Malásia e em Omã para a sua própria frota de navios, que são usados para o transporte de sua própria produção e o fretamento para terceiros.
A geração própria de energia elétrica atende cerca de 80% do consumo de energia da Vale em suas operações no Brasil. São utilizadas fontes renováveis na geração de energia, como hidrelétrica – por meio de três pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) -, solar e eólica.
Além da geração própria, a Vale tem participações em 3 consórcios de usinas hidrelétricas (Aliança Geração e Aliança Norte Energia) e em 2 empresas de geração e comercialização de energia. A mineradora também tem ativos de geração de energia elétrica no Canadá e na Indonésia.
O que a Vale exporta?
Os principais minerais produzidos pela Vale também são seus principais produtos de exportação do Brasil para outros países. As vendas para o exterior são concentradas em minério de ferro, pelotas, níquel e cobre.
Os principais destinos das exportações da Vale são:
- China: Maior consumidor global de minério de ferro e principal destino das exportações da Vale, devido ao tamanho da sua indústria siderúrgica.
- Japão e Coreia do Sul: Outros grandes consumidores de minério de ferro e níquel, com importantes indústrias de aço e tecnologia.
- Europa (Alemanha, Itália, Reino Unido): Importante mercado para produtos de maior valor agregado, como pelotas de minério de ferro e níquel.
- América do Norte (Estados Unidos e Canadá): Consomem cobre e níquel, especialmente para a indústria de tecnologia e produção de aço inoxidável.
Essas exportações contribuem significativamente para a balança comercial do Brasil, cuja pauta exportadora é concentrada em commodities agrícolas, minerais e energéticas, influenciando na taxa de câmbio dólar americano e real brasileiro.
Resultados Vale: Lucros e Faturamentos Recentes
Nos últimos 10 anos, a Vale tem registrado um crescimento robusto de receita e fortes lucros, com exceção nos anos dos acidentes com as barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019). A escalada do preço do minério de ferro no mercado internacional com a forte demanda chinesa contribuiu para esse resultado, juntamente com os preços mais altos em minérios que são matérias-primas para a transição energética.
O pico dessa escalada foi em 2021, quando a empresa reportou receitas recordes em vários trimestres. No entanto, a desaceleração e as dificuldades de retomada ao dinamismo anterior da economia afetou o preço do minério de ferro, que acabou sofrendo uma queda em 2022 e em 2023.
Lucros Anuais da Vale
A Vale historicamente registra lucros anuais consistentes. O lucro líquido da empresa reflete tanto o aumento da produção quanto a eficiência de suas operações, que são avaliadas entre as de menor custo no setor.
Resultados líquidos da Vale entre 2014 e 2023:
Ano | Resultado Líquido |
---|---|
2023 | + R$ 40,6 bilhões |
2022 | + R$ 96,3 bilhões |
2021 | + R$ 121,3 bilhões |
2020 | + R$ 24,9 bilhões |
2019 | – R$ 8,7 bilhões |
2018 | + R$ 25,8 bilhões |
2017 | + R$ 17,7 bilhões |
2016 | + R$ 13,3 bilhões |
2015 | – R$ 46,0 bilhões |
2014 | + R$ 0,2 bilhão |
Faturamento Anual da Vale
O faturamento da Vale está diretamente ligado ao volume de exportações e aos preços das commodities no mercado internacional. A empresa alcançou faturamentos recordes nos últimos anos devido à alta demanda por matérias-primas, embora tenha apresentado queda nos últimos dois anos.
Receita da Vale entre 2014 e 2023:
Ano | Receita |
---|---|
2023 | R$ 208,1 bilhões |
2022 | R$ 226,5 bilhões |
2021 | R$ 293,5 bilhões |
2020 | R$ 206,1 bilhões |
2019 | R$ 144,6 bilhões |
2018 | R$ 134,5 bilhões |
2017 | R$ 108,5 bilhões |
2016 | R$ 94,6 bilhões |
2015 | R$ 78,1 bilhões |
2014 | R$ 82,6 bilhões |
Ações da Vale: Cotação, Dividendo e Histórico
As ações da Vale estão entre as mais negociadas na B3 (Bolsa de Valores do Brasil) e são amplamente acompanhadas por investidores internacionais. Seu ticker de negociação na B3 é VALE3.
Seus papéis representam a maior participação na carteira teórica do Ibovespa, principal índice de ações do Brasil. A carteira teórica do Ibovespa leva em consideração fatores como liquidez e capitalização para a adição de uma ação em sua composição.
O peso da Vale no Ibovespa é geralmente entre 12% e 17% do índice, dependendo do período de balanceamento. As atualizações da carteira teórica do Ibovespa ocorrem quadrimestralmente em janeiro, maio e setembro.
Os papéis da mineradora também são negociados na bolsa de Nova York, por meio de suas ADRs (American Depositary Receipt), sob o ticker VALE. As ADRs da Vale compõem os índices NYSE TOP International 100 e NYSE Composite em Wall Street.
A Vale é uma corporation, ou seja, não tem um controlador principal, com 72,62% das ações pulverizadas no mercado. Os restantes dos papéis estão distribuídos em:
- 8,76% do fundo de pensão Previ
- 6,37% da gestora americana BlackRock
- 6,31% do conglomerado japonês Mitsui
- 5,95% na Tesouraria
A empresa também é conhecida por distribuir dividendos regulares e robustos aos seus acionistas. Seu dividend yield é acima de 10% desde que retomou o pagamento regular de proventos em 2021, após o acidente da barragem em Brumadinho, com exceção em 2023. O retorno atual médio com dividendos é 11,39%, com um payout anualizado de R$ 7,16 por ação e um payout ratio de 63,62 sob um Lucro Por Ação (LPA) de R$ 11,2657.
Como investir em ações da Vale?
Investir em ações da Vale é uma maneira de se posicionar no setor de mineração e commodities no Brasil, especialmente para quem busca diversificar o portfólio com empresas de grande porte e potencial de dividendos.
Veja abaixo o passo a passo para investir:
1. Abra Conta em uma Corretora de Valores: Para comprar ações da Vale, é necessário ter conta em uma corretora de valores habilitada para operar na B3 (Bolsa de Valores do Brasil). No processo de escolha, considere:
- Taxas de corretagem: Algumas corretoras cobram taxas para cada operação.
- Taxa de custódia: Muitas corretoras já aboliram essa taxa, mas é importante verificar.
- Plataforma e suporte: Certifique-se de que a corretora oferece uma plataforma fácil de usar e suporte de qualidade.
2. Transfira o Dinheiro para a Corretora: Após abrir a conta, faça uma transferência via TED ou PIX do valor que deseja investir para a conta da corretora. Esse saldo será usado para comprar as ações.
3. Acesse o Home Broker: A maioria das corretoras oferece um sistema de Home Broker, que permite ao investidor visualizar as ações e realizar negociações em tempo real.
4. Procure pelo Código VALE3: No Home Broker, localize as ações da Vale digitando o código VALE3. Você verá a cotação atualizada e poderá inserir a quantidade que deseja comprar.
5. Escolha o Tipo de Ordem: Existem dois principais tipos de ordens de compra:
- Ordem a mercado: A compra é executada imediatamente ao preço de mercado.
- Ordem limitada: Você define um preço específico, e a compra só será executada quando a ação alcançar esse valor.
6. Acompanhe e Gerencie o Investimento: Após a compra, você pode acompanhar a performance das ações e os dividendos pagos pela Vale. Acompanhe também notícias do setor de mineração e fatores econômicos que podem impactar o preço das commodities e da ação.
7. Considere a Tributação e a Declaração de Imposto de Renda: Lembre-se de que os ganhos com a venda de ações podem estar sujeitos ao Imposto de Renda, caso o lucro mensal ultrapasse R$ 20.000. Além disso, é necessário declarar os investimentos na Declaração de Imposto de Renda anual.
Vantagens e Riscos de invetir na Vale
Como qualquer ação de empresa, há vantagens e riscos ao investir nos papéis da Vale. As principais vantagens são:
- Dividendos: A Vale costuma pagar dividendos atrativos quando obtém lucro elevado.
- Exposição ao mercado global: A demanda por commodities, especialmente da China, influencia positivamente o preço da ação.
Os principais riscos são:
- Volatilidade: O preço da ação é sensível a variações no preço do minério de ferro e a crises no setor.
- Risco ambiental e regulatório: Desastres ambientais, como os rompimentos de barragens, podem impactar significativamente o valor da empresa.
Esses passos permitem que você invista em VALE3 com segurança e acompanhe as oportunidades e os riscos que essa ação oferece no mercado de commodities.
Onde Fica a Sede da Vale?
A sede principal da Vale está localizada na cidade do Rio de Janeiro, na Praia de Botafogo. A empresa possui operações e filiais em diversas regiões do Brasil, especialmente em estados como Minas Gerais, Espírito Santo e Pará.
Administração da Vale
A mineradora trocou recentemente de CEO. Após 1 ano de polêmicas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tentou colocar um profissional próximo a seu governo no cargo, Gustavo Pimenta assumiu o comando da empresa em outubro de 2024.
Segue abaixo a lista dos últimos CEOs da Vale:
- Gustavo Pimenta (2024-presente)
- Eduardo Bartolomeo (2019-2024)
- Fábio Schvartsman (2017-2019)
- Murilo Ferreira (2011-2017)
- Roger Agnelli (2001-2011)
A Perspectiva Futura da Vale
A Vale continua a ser uma das empresas mais importantes do Brasil, com um papel central no mercado global de mineração. No futuro, a empresa deverá focar em sustentabilidade, diversificação de portfólio e inovação tecnológica para se manter competitiva em um cenário de transição energética.