Você já percebeu que, com o passar do tempo, o dinheiro vai perdendo valor e não consegue mais comprar as mesmas quantidades de produtos do passado? Pois é, esse fenômeno é conhecido como inflação e afeta a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
A inflação ocorre quando os preços dos produtos e serviços que costumamos consumir registra um aumento generalizado e persistente em determinado período.
Isso faz com que o poder aquisitivo da moeda caia e, dependendo da intensidade, pode obrigar muitas famílias a mudar seus hábitos de consumo e fazer com que empresas revisem seu planejamento estratégico.
Mas o que é inflação, o que significa inflação, quais são os tipos de inflação e como ela funciona?
Para responder a essas e outras perguntas, elaboramos este artigo completo que vai explicar tudo sobre o que é inflação na economia, suas causas, como calculá-la e como se proteger desse fenômeno.
O que é inflação?
A inflação pode ser entendida como o aumento generalizado e persistente dos preços dos bens e serviços em uma economia.
Em outras palavras, quando ocorre a inflação, o poder de compra da moeda de uma economia diminui, exigindo uma quantidade maior de dinheiro para adquirir a mesma quantidade de produtos.
A inflação é medida por índices que calculam a variação média dos preços de uma cesta de consumo que representa os hábitos de gastos da população.
No Brasil, os principais índices de inflação são:
- Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é usado como referência pelo governo para as metas de inflação. É baseado em uma cesta de consumo ponderada para famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos.
- Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação dos preços para as famílias com renda de até cinco salários mínimos.
Tipos de inflação
A inflação pode ser classificada de diferentes maneiras, de acordo com suas causas, intensidade e duração. Os principais tipos de inflação são:
Inflação de demanda
Ocorre quando a procura por bens e serviços é maior do que sua oferta, ou seja, há mais consumidores querendo comprar do que produtores podendo vender. O efeito desse desequilíbrio é uma escassez relativa no mercado, o que faz com que os preços aumentem.
Um exemplo para entender o que é inflação de demanda é quando há um crescimento econômico acelerado, responsável por elevar o nível de renda e consumo da população.
Inflação de custos
Está relacionada a um aumento nos custos de produção dos bens e serviços pelas empresas, os quais são repassados para os preços finais ao consumidor.
Isso pode acontecer por diversos motivos, como um aumento dos salários, dos impostos, das tarifas públicas, do preço das matérias-primas ou da taxa de câmbio.
Um exemplo para entender o que é inflação de custos é quando há uma alta do dólar, que encarece os produtos importados ou que dependem de insumos estrangeiros.
Inflação inercial
Esse tipo de inflação ocorre quando há uma expectativa de que os preços continuarão subindo no futuro, levando os agentes econômicos a reajustar os valores com base na inflação passada. Isso gera um efeito cumulativo, que alimenta a própria inflação.
Um exemplo para entender o que é inflação inercial é quando os contratos são indexados a algum índice de inflação, como o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), no caso dos aluguéis , fazendo com que seus valores se ajustem automaticamente. O mesmo vale para o setor de construção, no caso do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção).
Inflação estrutural
Decorre de problemas estruturais na economia, que impedem o aumento da oferta ou a redução da demanda. Esse fenômeno pode estar relacionado a fatores como:
- baixa produtividade;
- falta de infraestrutura;
- deficiências institucionais;
- distorções tributárias;
- e intervenções governamentais.
Um exemplo de inflação estrutural é quando há um controle artificial dos preços por parte do governo, que gera desequilíbrios entre oferta e demanda.
Como funciona a inflação
A inflação funciona como um processo dinâmico e complexo, que envolve diversos fatores econômicos, sociais e políticos. Ela pode ser influenciada por choques externos ou internos, por políticas monetárias e fiscais, por expectativas ou comportamentos dos agentes econômicos e também por mudanças estruturais na economia.
O que causa a inflação
Para entender por que a inflação aumenta, é necessário identificar o que está provocando um desequilíbrio entre a oferta e a demanda na economia.
Quando a procura por bens e serviços é maior do que sua disponibilidade no mercado, a tendência é que os preços subam, pois a escassez incentiva os agentes econômicos a remarcar os preços para cima quando percebem que a demanda está aumentando.
Por outro lado, quando a oferta é maior do que a demanda, os preços tendem a cair.
Dessa forma, para entender o que gera inflação é necessário identificar o fator causador do desequilíbrio entre oferta e demanda, como:
- um crescimento econômico acima do esperado;
- uma quebra de safra de produtos agrícolas, fazendo com que os preços de determinados alimentos aumente;
- eventos geopolíticos que afetam a oferta de commodities e outros produtos, como guerras;
- intervenções do governo nos preços administrados, como combustíveis e energia;
- infraestrutura inadequada que aumenta os custos de logística e circulação de mercadorias, entre outros.
Por isso, é preciso analisar caso a caso, a fim de identificar os motivos da inflação.
Como controlar a inflação
O controle da inflação é uma das principais preocupações das políticas econômicas dos governos. Para isso, existem diferentes instrumentos e estratégias que podem ser combinados ou alternados, conforme a situação.
Os bancos centrais têm um papel fundamental na contenção da inflação, usando vários instrumentos e estratégias para garantir a estabilidade econômica. Confira a seguir como eles costumam agir para controlar o aumento dos preços:
Política Monetária
Um dos principais meios de controle da inflação é a política monetária. Vamos ver algumas das ações específicas:
Alteração da taxa de juros básica (Selic no Brasil)
Os bancos centrais podem elevar as taxas de juros para tornar o empréstimo mais caro e a poupança mais atrativa, o que pode diminuir o consumo e, consequentemente, a inflação. Por outro lado, a redução das taxas de juros pode incentivar a economia, aumentando o consumo e, potencialmente, a inflação.
Operações de mercado aberto
Os bancos centrais podem comprar e vender títulos públicos no mercado aberto para regular a quantidade de dinheiro disponível na economia.
Requisitos de reserva
Outro instrumento bastante utilizado pelos bancos centrais para baixar a inflação é aumentar os requisitos de reserva dos bancos comerciais, a fim de restringir a quantidade de dinheiro que as instituições financeiras podem emprestar.
Intervenção no mercado de câmbio
Os bancos centrais podem intervir no mercado de câmbio, comprando ou vendendo moeda nacional, no intuito de estabilizá-la ou valorizá-la.
Política Fiscal
Além da política monetária, outra medida governamental para administrar a inflação é a política fiscal, que envolve a forma como o governo utiliza seu orçamento.
Entre as políticas fiscais capazes de influenciar a inflação, podemos destacar:
Redução dos gastos públicos
O governo pode optar por diminuir seus gastos, a fim de reduzir a demanda agregada e, consequentemente, a pressão inflacionária.
Aumento de impostos
Ao aumentar os impostos, o governo diminui o poder aquisitivo das famílias, desincentivando o consumo.
Controle de preços e salários
Em algumas situações, os governos podem decidir implementar controles diretos sobre preços e salários para tentar conter a inflação. No entanto, essa é geralmente uma medida provisória, pois pode gerar outros problemas econômicos.
Comunicação e expectativas
A forma como os bancos centrais se comunicam tem forte impacto nos mercados, podendo influenciar as expectativas de inflação.
Ao divulgar claramente suas metas de inflação e a forma como pretendem alcançá-las, a autoridade monetária é capaz de mexer com as expectativas dos agentes econômicos e, assim, ajudar a controlar a inflação.
Como é medida a inflação
A inflação é medida por meio de índices que calculam a variação média dos preços de uma cesta de consumo, que representa os hábitos de gastos da população. Esses índices são elaborados por instituições oficiais ou privadas, que coletam os dados dos preços em diferentes locais e períodos.
Como calcular a inflação
Para calcular a inflação, é preciso seguir alguns passos:
- Definir a cesta de consumo, que é um conjunto de bens e serviços que reflete o padrão de vida da população-alvo do índice, o que pode variar conforme o nível de renda, a região geográfica e o período de tempo considerado.
- Estabelecer os pesos dos itens da cesta, que são as proporções que cada bem ou serviço representa no orçamento médio da população-alvo, os quais podem ser obtidos por meio de pesquisas de orçamentos familiares ou de outras fontes estatísticas.
- Coletar os preços dos itens da cesta em diferentes locais e períodos, considerando estabelecimentos comerciais ou fontes oficiais, de acordo com uma metodologia padronizada e transparente.
- Calcular o valor da cesta em cada período, a fim de obter a soma dos produtos dos preços pelos pesos dos itens da cesta.
- Calcular o índice de preços em cada período, dividindo o valor da cesta em um período pelo valor da cesta em um período-base (geralmente o primeiro período da série), multiplicado por 100.
- Calcular a variação do índice de preços entre dois períodos. A variação do índice de preços é obtida pela subtração do índice de preços em um período pelo índice de preços em outro período (geralmente o anterior), dividido pelo índice de preços no outro período, multiplicado por 100. Esse resultado é expresso em porcentagem, e indica a taxa de inflação entre os dois períodos.
Por exemplo, suponha que o valor da cesta de consumo em janeiro de 2023 seja de R$ 1.000,00 e o valor da cesta em fevereiro de 2023 seja de R$ 1.020,00. O índice de preços em janeiro será de 100 (1.000 / 1.000 x 100) e o índice de preços em fevereiro será de 102 (1.020 / 1.000 x 100). A variação do índice de preços entre janeiro e fevereiro será de 2% (102 – 100 / 100 x 100). Isso significa que a inflação entre janeiro e fevereiro foi de 2%.
Como calcular a inflação acumulada
A inflação acumulada é a soma das taxas de inflação de vários períodos consecutivos e indica quanto os preços aumentaram em um determinado intervalo de tempo.
Para calcular a inflação acumulada, é preciso seguir alguns passos:
- Escolher o índice de preços que será usado como referência, como IPCA, INPC ou outro.
- Escolher o período inicial e final do intervalo de análise. Pode ser um mês, um ano ou outro período.
- Obter as taxas de inflação mensais do índice escolhido para cada mês do intervalo em sites oficiais ou privados que divulgam os dados da inflação.
Em seguida, para calcular a inflação acumulada, basta usar a fórmula:
Inflação acumulada = [(1 + i1) x (1 + i2) x … x (1 + in) – 1] x 100
Onde:
i1, i2, …, in são as taxas de inflação mensais do índice escolhido para cada mês do intervalo, expressas em decimal.
Por exemplo, suponha que você queira calcular a inflação acumulada entre janeiro e dezembro de 2023, usando o IPCA como índice de referência. Considere que as taxas de inflação mensais do IPCA nesse período foram as seguintes:
Mês | Taxa (%) | Taxa (decimal) |
Janeiro | 0,25 | 0,0025 |
Fevereiro | 0,86 | 0,0086 |
Março | 0,93 | 0,0093 |
Abril | 0,31 | 0,0031 |
Maio | 0,83 | 0,0083 |
Junho | 0,53 | 0,0053 |
Julho | 0,36 | 0,0036 |
Agosto | 0,24 | 0,0024 |
Setembro | -0,04 | -0,0004 |
Outubro | 0,89 | 0,0089 |
Novembro | 0,64 | 0,0064 |
Dezembro | 1,35 | 0,0135 |
Aplicando a fórmula da inflação acumulada, temos:
Inflação acumulada = [(1 + 0,0025) x (1 + 0,0086) x … x (1 + 0,0135) – 1] x 100
= [1,0025 x 1,0086 x … x 1,0135 – 1] x 100
= [1,1788 – 1] x 100
= 17,88%
Isso significa que os preços aumentaram em média 17,88% entre janeiro e dezembro de 2023. Esse é o valor da inflação acumulada no período.