Por Martin Quin Pollard e Liz Lee
PEQUIM (Reuters) - A China registrou nesta segunda-feira suas primeiras mortes relacionadas à Covid-19 em semanas, em meio a dúvidas crescentes sobre se a contagem oficial está capturando o número total de vítimas de uma doença que está se espalhando pelas cidades depois que o governo flexibilizou os rígidos controles antivírus.
As duas mortes de segunda-feira foram as primeiras a serem relatadas pela Comissão Nacional de Saúde (NHC) desde 3 de dezembro, dias antes de Pequim anunciar que estava suspendendo restrições que mantiveram o vírus sob controle por três anos, mas desencadearam protestos generalizados no mês passado.
No sábado, porém, jornalistas da Reuters testemunharam carros funerários alinhados do lado de fora de um crematório designado para Covid-19 em Pequim e trabalhadores em trajes de proteção carregando mortos dentro das instalações. A Reuters não pôde estabelecer imediatamente se as mortes foram causadas pela Covid.
Uma hashtag sobre as duas mortes relatadas por Covid rapidamente se tornou o principal tópico de tendência na plataforma chinesa Weibo, semelhante ao Twitter, nesta segunda-feira.
"Qual é o sentido de estatísticas incompletas?", perguntou um usuário. "Isso não é enganar o público?", escreveu outro.
A Comissão Nacional de Saúde não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O baixo número de mortes desde que as restrições foram suspensas em 7 de dezembro é inconsistente com a experiência de outros países após medidas semelhantes. Oficialmente, a China sofreu apenas 5.237 mortes relacionadas à Covid durante a pandemia, incluindo as duas últimas vítimas, uma pequena fração de sua população de 1,4 bilhão de pessoas.
Mas especialistas em saúde têm afirmado que a China pode pagar um preço por tomar medidas tão rigorosas para proteger uma população que agora carece de imunidade natural para Covid-19 e tem baixas taxas de vacinação entre os idosos.
Alguns temem que o número de mortos por Covid na China possa ultrapassar 1,5 milhão nos próximos meses.
O respeitado veículo de notícias chinês Caixin informou na sexta-feira que dois jornalistas da mídia estatal morreram após contrair Covid e, no sábado, um estudante de medicina de 23 anos também morreu. Não ficou imediatamente claro quais dessas mortes foram incluídas no número oficial de óbitos.
"O número (oficial) é claramente uma subestimação das mortes por Covid", disse Yanzhong Huang, especialista em saúde global do Conselho de Relações Exteriores, um think tank dos Estados Unidos.
Isso "pode refletir a falta de capacidade do Estado de rastrear e monitorar com eficácia a situação da doença após o colapso do regime de testes de PCR em massa, mas também pode ser impulsionado pelos esforços para evitar o pânico em massa devido ao aumento das mortes por Covid", acrescentou.
A Comissão Nacional de Saúde relatou 1.995 infecções sintomáticas em 18 de dezembro, em comparação com 2.097 no dia anterior. Mas as taxas de infecção também se tornaram um guia não confiável, já que testes de PCR estão sendo muito menos exigidos após a recente flexibilização.