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Nascido em 4 de Julho

Publicado 04.07.2018, 11:31
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“Deus não existe. Ele morreu junto com minhas pernas. Não há um Deus. Não há um país.”

Para mim, esse é um dos trechos mais impactantes de “Nascido em 4 de Julho”. Oliver Stone e Tom Cruise, possivelmente em sua melhor forma, com trilha sonora do John Williams… uau! Ah, claro, não há como não pontuar a rápida, mas marcante interpretação de Willem Dafoe, na esplêndida cena da viagem alucinógena após a bebedeira de mezcal, com direito a ingestão da lagarta presente ao final da garrafa – sim, a larva manguey realmente altera a composição química da bebida, atuando sobre a quantidade de compostos e álcoois insaturados.

Se você parar para pensar, o primeiro parágrafo lá em cima sintetiza o próprio filme. O personagem fala da inexistência de Deus, mas não se apresenta como ateu. Se Deus morreu, é porque Ele algum dia viveu. Há implícita aí uma crença no Ser Superior. A declaração contra o Superior é, no fundo, uma revolta contra os acontecimentos, e não um ato de negação.

Perceba também o paralelo claro entre o divino e o país, no caso, os EUA. A nação era o Deus de Ron Kovic, ex-combatente do Vietnã interpretado por Cruise no filme, e ela morre no exato instante da desilusão com a guerra. Estamos todos à procura de um pai, uma referência para servir-nos de guia para os momentos mais difíceis, seja ele de ordem biológica, religiosa, nacional, financeira, científica ou tecnológica – cada um escolhe a divindade a que quer obedecer, com espaço para o politeísmo, evidente.

Depois de ter ido ao Vietnã disposto a morrer para combater o avanço do comunismo e preservar os valores americanos, Kovic está revoltado. Esperava matar a ditadura comunista, acabou atirando em crianças e mulheres. Terminou paraplégico e voltou como herói de guerra aos EUA, onde enfrentou enorme preconceito contra deficientes e desprezo pelos combatentes no Vietnã. Após o calvário pessoal, Kovic virou importante ativista político.

Hoje comemora-se a Independência dos EUA. Os mercados norte-americanos estarão fechados. Sem a referência do pai ao norte, as Bolsas por aqui devem atuar sem liquidez e sem variações mais expressivas. Precisamos da benção do investidor estrangeiro para sabermos para onde ir e o que fazer. A parte boa é que dá para ver a Copa sem muita culpa — quem rezava o terço na infância sabe bem o que é a culpa católica e o temor a Deus.

O mundo inteiro sabe do feriado nos EUA hoje. Aqui mesmo teve festa grande no consulado — o convite ainda está aqui em cima da mesa, mas infelizmente não pude ir. Soube do tamanho das comemorações. Todos sabem da importância do 4 de julho para os EUA.

Mas sabe o que eu acho curioso dessa história toda? Que o Brasil também deveria ter comemorado uma espécie de independência nessa semana, mas ninguém falou nada, sabe? Fingimos que nada aconteceu! Simplesmente passou, quando mais deveríamos celebrar essa conquista.

Em 1° de julho, o Real completou 24 anos de existência. Cara, um novo país nasceu com aquilo ali. Antes dessa revolução monetária, tivemos outras oito tentativas de troca de moeda, nenhuma com sucesso sequer parecido. Não cabe na mesma frase. Antes de julho de 1994, a economia era basicamente disfuncional, com o Estado inviabilizado por conta das despesas sem controle e sem regra e uma inflação galopante que inviabilizava consumo e investimento.

Isso me remete à situação atual. Quando falam que o Brasil não tem mais jeito, penso no Plano Real. A situação era muito pior ali. Fizemos a maior reforma estruturante da economia brasileira (não vale falar de 1808 porque ali a gente era colônia ainda) e deu certo. Com Itamar Franco de presidente!

Alguém vai dizer que Itamar era um reformista convicto? Aquele que decretou moratória do estado de Minas Gerais ao tomar posse em 1998, num discurso pouco radical de “necessidade de auditoria na dívida estadual", recebendo de Armínio Fraga, então presidente do BC, palavras muito sutis de agradecimento: “Itamar age contra a estabilidade das regras”? O mesmo que retomou judicialmente o controle acionário da Cemig? O vice do Collor? O defensor do relançamento do Fusca?

A agenda se impõe, a despeito de convicções individuais nessa ou naquela reforma.

Há outro paralelo interessante com a situação atual: nada no Plano Real seria possível sem uma reforma fiscal e administrativa, tocadas sob a égide da eficiência de Clóvis Carvalho. O plano só vai ao ar depois de um período significativo de equilíbrio das contas públicas, cujo marco mais emblemático talvez seja o Fundo Social de Emergência, de 1° de março de 94.

Embora tenha ficado para a história mais superficial apenas a importante coexistência de moedas, o lançamento da URV e a posterior adoção do real, no que era basicamente um desdobramento da proposta acadêmica batizada de LARIDA (síntese das ideias de André Lara Resende e Pérsio Arida, hoje em chapas diferentes na campanha presidencial), houve uma sequência de outros passos fundamentais anteriores à reforma monetária propriamente dita, como amplo programa de privatizações, Proer, criação das agências reguladoras, Lei de Responsabilidade Fiscal, absorção de bancos estaduais, renegociação de dívidas com estados e municípios, abertura comercial e por aí vai…

Quando penso nisso tudo, as dificuldades atuais parecem brincadeira de criança. Sem menosprezar a imperiosa necessidade de ajustarmos nossa trajetória fiscal, reformar o Estado e perseguir ganhos de produtividade.

Não é porque não estamos enxergando a saída da crise que ela não exista. Ausência de evidência não é evidência de ausência. O Brasil tem solução — possivelmente, ela não é maravilhosa, mas existe e nos impede de seguir a rota do desastre.

Antes de atravessar o Rio Rubicão, Júlio César estava bastante inseguro sobre sua decisão. Achava quase impossível e temia o que lhe esperava do outro lado.

Decidiu seguir, proferindo o clássico “alea jacta est” (a sorte está lançada). No final, tudo deu certo. Dizem que isso aconteceu no 10 de janeiro no calendário romano, data de aniversário deste pobre redator, o que o liga sentimentalmente à história.

Cada grande realização vem a partir de um ato de coragem. A virtude só nasce num ambiente que lhe é hostil, como muito bem resumiu Luiz Felipe Pondé. A travessia do Rubicão foi aplicação prática do “leap of faith” (um salto de fé), de Soren Kierkegaard. Talvez seja isso o que nos falte agora.

Em dia de baixa liquidez por conta do feriado nos EUA, mercados brasileiros começam com variações modestas, mas positivas no geral. Animam-se com a hipótese de emergência de um bloco de centro mais forte a partir da reunião entre Michel Temer e FHC, bem como a chance de eventual troca de Geraldo Alckmin por João Doria na chapa tucana. A melhor notícia deste 4 de julho talvez seja a definitiva independência da esquerda brasileira.

Certa calmaria no exterior também permite certa busca por ativos de risco aqui.

Na agenda doméstica, destaque para a produção industrial, que desabou 10,9 por cento na passagem de abril para maio, mas veio melhor do que o esperado. Outra boa notícia foi a aprovação na Câmara, ontem à noite, do pedido de urgência no projeto que destrava venda de distribuidoras de energia elétrica, servindo de trigger para a Eletrobras (SA:ELET3). Temos ainda hoje fluxo cambial mensal.

Lá fora, com NY fechada, vale monitorar PMI da Zona do Euro e da Alemanha. Na China, PMI de serviços subiu de 52,9 para 53,9 pontos, surpreendendo positivamente.

Ibovespa Futuro abre em baixa de 0,3 por cento, dólar cai contra o real e juros futuros recuam.

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