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O Pecado Original Para Seu Dinheiro

Publicado 09.05.2018, 16:42
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“O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora.”

Blaise Pascal

“Então, Vivian apontou o erro na minha forma de pensar: meu plano de saída, que foi esperar até que as ações voltassem a meu valor de aquisição. O que fiz foi me concentrar em um preço que era de significado histórico único para mim, ou seja, meu preço de compra. Teóricos de finanças comportamentais (…) chamam isso de ancoragem (de si mesmo a um preço que tem um significado para você, mas não para o mercado). (…) Este equívoco estava na maneira como pensei no problema de quando vender, escolhendo um critério irrelevante – o preço pago – em vez de focar nos fundamentos econômicos e descobrir se investimentos conservadores ou alternativos seriam mais adequados.”

Isso é Ed Thorp, O Homem para Qualquer Mercado, retratado no livro homônimo, que é parte da coleção Empiricus Books. Thorp é o homem que quebrou a banca, matemático brilhante, um verdadeiro gênio. Seu pecado original foi semelhante ao cometido com frequência pelo investidor comum, simplesmente porque esta é uma tendência humana: apegar-se ao preço de entrada num determinado ativo.

A cada vez que você mantém uma ação ou um título em sua carteira, é como se decidisse comprá-la(o) novamente. A cada momento, você tem a oportunidade de desmontar todo seu portfólio e refazê-lo do zero. A decisão de manter seus ativos, portanto, deve passar única e exclusivamente pela perspectiva deles à frente, com o perdão do pleonasmo. Se subiram ou caíram para trás, não importa. Ainda são os melhores a se manterem em carteira hoje? Ou há alternativas melhores à disposição para serem comprados?

Copio aqui as palavras de Thorp porque vejo a recorrência da ancoragem no investidor pessoa física. A esse viés, soma-se o chamado “endowment effect”, que o autor não menciona, mas também se aplica perfeitamente ao caso. Tendemos a dar mais valor a uma determinada coisa depois que a compramos, o que obviamente fere o princípio da racionalidade estrita. A coisa tem o valor dela, em si, independentemente de você a possuir ou não. O iPhone X vale Y tendo você o adquirido ou não.

Eis o pecado original: não vender ações simplesmente porque estão abaixo do seu preço de compra vai trazer um desdobramento trágico e meramente lógico. No longo prazo, se você vende as ações que sobem e carrega as ações que caem, seu portfólio vai terminar inteiramente composto por micos lá na frente.

Embora se apoiasse na epístola de Paulo aos Romanos e aos Coríntios, foi Santo Agostinho quem tratou do Pecado Original pela primeira vez de forma sistematizada. Adão e Eva foram advertidos por Deus para não provarem do fruto proibido.

Sem resistir à tentação imposta pela serpente, Eva prova da maçã e a oferece para Adão, que aceita. A desobediência a Deus rendeu a expulsão do casal do Jardim do Éden. Ainda mais problemático, o Pecado Original seria congênito e hereditário. Ou seja, aquilo marcaria a origem da imperfeição humana, do sofrimento e do próprio mal. Estaríamos todos condenados a partir da mácula pela mordida na maçã. Herdaríamos geneticamente a culpa por Adão e Eva terem sucumbido à tentação do diabo.

Santo Agostinho tinha como antagonista Pelágio da Bretanha, para quem o pecado não seria congênito nem hereditário e que os homens nasceriam bons e inocentes. O pecado seria cometido por imitação, não por hereditariedade.

Sei lá quem estava certo nessa, mas, se vamos imitar alguém, que não seja os errantes. Se exponho casos de equívocos clássicos, é justamente para que possamos nos desviar desse caminho do mal.

Para mim, o pecado original dos investimentos é outro e se liga a portfólios construídos sem proteção e seguros. A ideia acaba de encontrar no comportamento do dólar contra o real e contra outras moedas emergentes mais uma evidência empírica em prol de sua validade.

Se você monta uma carteira acreditando demais nas suas teses, concentrando ou até mesmo se alavancando no que você acha, quando cometer um pecado, não será simplesmente expulso do Jardim de Éden. Você estará morto financeiramente.

É por isso que no dia de hoje gostaria de me dedicar um pouco mais ao comportamento do dólar. Com a alta recente, o verde volta a estar na moda.

Eu, que sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, não quero aqui discordar dos doutos. Mas seguem umas palavrinhas sobre o dólar.

Falo isso depois de fazer um mestrado em câmbio. Mais especificamente, em prêmio pelo risco cambial, no período iniciado com a maxidesvalorização de 99. Queria medir quanto as pessoas cobram de retorno adicional para estar na nossa moeda. Para comprar reais em vez de dólares, quanto o investidor exige de rendimento a mais?

A dissertação foi uma porcaria, para desalento do meu orientador, que insistia no potencial de publicarmos num “journal” internacional. Eu estava interessado em publicar outras três coisas: o primeiro saldo positivo da década no meu extrato bancário, a boleta do plano de saúde do filho recém-nascido e um único sorriso no rosto de minha mãe, que se deprimiu com a morte súbita e prematura de meu pai.

Até tentei me empolgar com o último capítulo, que seria uma tentativa de ligar Robert Barro e seu artigo “Rare Events and the Equity Premium” (aplicando a ideia ao caso do câmbio) a Nassim Taleb. Desisti rápido, ao perceber que nem mesmo Barro captara a essência da coisa. Eventos raros jamais poderão caber numa modelagem de qualquer variável, pela simples razão de que são… raros. Logo, você nunca vai ter uma amostra suficiente deles.

Depois de muito estudar, dedicar uma dissertação de 100 páginas ao danado e aplicar as mais sofisticadas técnicas econométricas disponíveis à época, descobri uma coisa sobre o câmbio: ninguém sabe nada sobre ele. É simplesmente impossível dizer quando vai cair, quando vai subir ou mesmo quando obedecerá a um determinado intervalo, seja ele qual for. Nós não sabemos. Ponto final.

Para não ser injusto, pode-se dizer um outro negócio sobre o real. Ele é uma moeda muito exótica, que paga muito bem quando as coisas vão bem, e muito mal quando as coisas vão mal. O desdobramento disso é que as pessoas não gostam dele. Quando tudo vai bem, você não precisa de dinheiro e, portanto, aceitaria estar num ativo que não paga tão bem. Já quando as coisas vão mal, trata-se do momento em que mais se precisa de grana e é justamente aí, quando você estará desesperado, que o real vai pagar-lhe muito mal.

Também podemos dizer que nossa moeda anda em saltos súbitos e vigorosos, muito mais intensos do que poderia supor uma trajetória bem-comportado e razoavelmente previsível, como a descrita pela distribuição Normal, aquela em forma de sino, adequada para a caracterização de medidas naturais, como peso e altura. Esse comportamento errático torna as coisas ainda mais difíceis.

Por isso tudo, sempre recomendo manter alguma coisa em moeda forte, algo entre 5% e 10% da carteira. Não importa o cenário. Até porque o cenário atual é simplesmente uma foto e fotos são incapazes de retratar a dinâmica do processo.

Se você perguntasse o que penso do dólar perto de 3,60 reais, diria que está caro. Isso que o investidor deve vender o verde para comprar a moeda brasileira? Entendo que não. Acho que precisa continuar com alguma fatia de seu portfólio alocada em dólar, que tem se mostrado o melhor instrumento de proteção e diversificação de carteira em 2018.

Por mais que os fundamentos brasileiros sugiram bom comportamento da conta corrente, fluxos estáveis e um valuation equilibrado, há uma pequena crise em curso nos mercados emergentes – a Argentina acaba de recorrer ao FMI e o peso chileno se desvalorizou cerca de 10 por cento, sem nada de errado acontecendo no Chile (se você consegue arbitrar moedas internacionais, está aí um call pra você).

Você nunca sabe quando vai usar, mas é sempre bom levar: preservativo, guarda-chuva e um pouco de dólar.

A arrogância epistemológica é a verdadeira semente do mal. Dela decorrem a concentração exagerada e a alavancagem. A prepotência simplesmente expulsa o investidor do jogo ao seu primeiro erro.

Encerro da mesma forma que comecei, apelando novamente a Blaise Pascal, para que nos sirva de guia a cada situação em que formos acometidos pelo excesso de confiança:

“Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se. E maravilho-me de que não se desespere alguém ante tão miserável estado. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais; pergunto-lhes se se acham mais instruídas que eu, e me respondem pela negativa; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.”

Mercados brasileiros iniciam a quarta-feira demonstrando otimismo, na esteira de maior tranquilidade com emergentes. Dólar perde força no mundo depois da disparada recente. Commodities voltam a subir, com petróleo ainda repercutindo decisão de Trump de retirar os EUA do acordo nuclear com o Irã, e cobre avançando na cola de bom desempenho da balança comercial chinesa.

Agenda norte-americana traz inflação ao produtor e estoques de petróleo. Agenda local tem fala do presidente do Banco Central mantendo foco na inflação, o que flerta com nova queda da Selic, e deflação medida pelo IPC-Fipe.

Ibovespa Futuro abre em alta de 0,7%, juros futuros cedem após rali recente e dólar cai contra o real.

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