Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Mosaic, líder de vendas de fertilizantes no Brasil, projeta um crescimento de 1 milhão de toneladas no mercado de adubos no Brasil em 2024, o que poderia levar o total entregue aos agricultores para uma máxima histórica de 46 milhões de toneladas, com um otimismo sobre o plantio da segunda safra de milho após um retorno das chuvas para as regiões ao norte do país.
"Vamos em busca do recorde em 2024", disse o country manager da Mosaic no Brasil, Eduardo de Souza Monteiro, em entrevista à Reuters, nesta segunda-feira.
Ele explicou que o ânimo do produtor mudou após o retorno das chuvas para áreas do Centro-Oeste e do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Isso o faz a acreditar que o plantio da segunda safra de milho, que responde por cerca de 75% da produção brasileira do cereal, não terá uma redução cogitada de até 10%.
"Com base nas conversas que tive na última semana, nas chuvas que se materializaram, na relação de troca do preço do milho com fertilizantes e na recuperação dos preços do cereal, não vejo motivos para se materializar a redução de 5% a 10% na área plantada da segunda safra, que vinha sendo estimada", disse ele, em entrevista no escritório da Mosaic, em São Paulo.
Um plantio em uma área de milho maior do que a projetada impulsionaria os negócios de fertilizantes.
"Vejo motivos para que se plante a mesma área. Tem possibilidade de ser uma área estável ou com algum 'up-side'. Vejo com otimismo... Com o retorno das chuvas, percebemos que o ânimo do produtor mudou", declarou o executivo da Mosaic, que tem cerca de 23% do mercado de fertilizantes no Brasil.
Com o atraso no plantio e consequentemente na colheita de soja em várias partes do Brasil, notadamente em Mato Grosso, em função da falta de chuvas adequadas e do calor intenso em meses anteriores, o consenso do mercado passou a estimar uma redução expressiva na área semeada com o milho segunda safra, plantado após a oleaginosa ser colhida.
Mas o preço do milho teve boa recuperação, lembrou Monteiro. O indicador do Cepea/Esalq aponta que o preço do milho subiu mais de 30% desde o início de agosto, quando a commodity voltou a se firmar, com ganho de quase 10% nos últimos 30 dias, para 70,47 reais/saca.
A soja e o milho respondem por cerca de 60% da demanda de fertilizantes no Brasil, enquanto outros produtos como cana, café, algodão, trigo, entre outros, ficam com o restante.
Monteiro estimou que as entregas de adubos no Brasil em 2024 podem crescer para 46 milhões de toneladas, considerando a premissa de que o Brasil tenha fechado 2023 com comercialização de 45 milhões de toneladas, o que seria um crescimento de cerca de 10% ante 2022, quando o mercado caiu por conta dos preços altos gerados pela guerra entre Ucrânia e Rússia.
Um volume de 46 milhões de toneladas poderia superar a melhor marca anterior, registrada em 2021, quando as entregas somaram 45,86 milhões de toneladas, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
MOMENTO PARA NEGÓCIOS
O retorno das chuvas também dará mais tranquilidade para o produtor fechar negócios antecipados para a próxima safra de soja (2024/25), cujo plantio começa apenas em setembro.
Segundo Monteiro, a venda antecipada de soja da próxima safra está atrasada, uma vez que o produtor estava focado nos problemas gerados pela seca.
Normalmente, o produtor fixa vendas de cerca de um terço da safra antecipadamente nesta época. Mas até agora vendeu somente 15%.
O executivo da Mosaic acredita que esta recuperação das vendas antecipadas vai estimular também o fechamento de compras de fertilizantes para entregas em 2024.
Para Monteiro, como o mercado de fertilizantes rodou pouco para a safra futura de verão (2024/25), os preços dos adubos estão relativamente baratos no Brasil, o que indica que o momento pode ser adequado para o produtor fechar negócios.
"Hoje o Brasil tem os menores preços do mundo de fertilizantes", disse Monteiro, citando um desconto de 120 dólares/tonelada em relação a outras origens para o MAP (fosfato monoamônico), enquanto o cloreto de potássio está com um desconto de 60 dólares por tonelada.
"Parte dessa diferença de preço se deve ao atraso na comercialização de soja para a nova temporada, já que o produtor está mais preocupado em saber o que vai colher."
Com uma esperada normalização do clima -- após fortes quebras nas produtividades da soja 2023/24 que poderão levar o país a colher volumes inferiores aos registrados em 2022/23 --, os negócios de fertilizantes voltarão a ocorrer, disse o executivo, alertando que pode haver uma concentração de demanda com impacto nos preços dos adubos.
"Talvez, com uma maior procura por adubos, possa ter uma redução do desconto do preço do fertilizante no Brasil em relação a outras origens. Normalmente, esses picos de demanda registram variação importante de preços dos fertilizantes. Então, pensando no consumidor final, é um bom negócio aproveitar o momento para fechar negócios", afirmou.
(Por Roberto Samora)