Para exportar alimentos e bebidas para países muçulmanos, as empresas brasileiras devem estar de acordo com as normas culturais e religiosas do Islã. Por isso, os produtos devem conter o selo halal, que certifica que a produção foi realizada dentro do que é permitido pela religião islâmica.
Com o objetivo de ampliar o acesso das empresas brasileiras a esse mercado, a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira criaram o projeto Halal do Brasil, que promove ações de aperfeiçoamento, capacitação, certificação, promoção comercial no segmento halal.
“O projeto é bem completo porque vai desde a sensibilização, capacitação, certificação e promoção comercial. A gente pega na mão da empresa, mostra todo o potencial e leva até ela ações para fazer o negócio”, diz a analista da ApexBrasil Deborah Rossoni ao Poder Empreendedor.
Halal é uma palavra árabe que significa lícito, permitido. O selo halal atesta que o produto foi feito de acordo com as regras do Islã, sendo adequado para o consumo dos muçulmanos. Devido aos elevados padrões de exigência desse mercado, a certificação halal também é considerada sinônimo de qualidade.
O projeto tem 83 empresas participantes. Desse número, 28 já têm certificação halal, 10 estão em processo de certificação e 1 conseguiu o selo halal por meio do projeto. A iniciativa oferece um apoio financeiro de até 50% do valor da certificação para as empresas participantes, limitado ao teto de R$ 12.000.
Empresas dos segmentos de alimentos e bebidas interessadas em exportar para países muçulmanos podem participar do projeto halal. Não há restrições por porte, segundo a analista da Apex.
O edital de seleção de empresas brasileiras para obtenção da 1ª habilitação halal por meio do projeto Halal do Brasil estabelece os seguintes critérios:
- seja uma empresa apoiada pelo projeto Halal do Brasil;
- não possua certificação Halal;
- possua produto compatível com a certificação Halal e com os mercados-alvo do projeto (22 países da liga árabe, Indonésia, Malásia e África do Sul);
- empresas que já exportam há pelo menos 2 anos;
- que atuam no setor de agronegócios ou alimentos e bebidas.
Segundo a ApexBrasil, os muçulmanos priorizam alimentos produzidos a partir de ingredientes frescos, certificados e que têm embalagens com informações claras.
“Os mercados islâmicos são muito exigentes em termos de padrão de qualidade. Quando tem a certificação halal, corresponde a um selo de segurança e de qualidade para qualquer outro país do mundo”, afirma Deborah Rossoni.
Certificação halal
A certificação halal analisa e rastreia toda a cadeia de produção, inclusive os fornecedores, para assegurar que todo o processo segue as regras e normas do Islã, diz Fernanda Dantas, head de projetos internacionais da CCAB (Câmara de Comércio Árabe-Brasileira). Entre os critérios adotados pelo mercado halal, está a proibição de ingredientes de origem suína ou alcoólica.
“O halal envolve uma questão muito maior do que só a proibição desses 2 ingredientes. O halal tem uma preocupação com toda a cadeia. Não olha simplesmente o produto final. Se comprar com um fornecedor que utiliza mão de obra escrava, o seu produto não pode ser halal”, disse Fernanda ao Poder Empreendedor.
Devido a essa preocupação com toda a cadeia de produção, o selo halal é visto como uma certificação de qualidade e de segurança alimentar, explica a especialista da Câmara Árabe. O certificado tem validade de 3 anos e deve ser renovado pelo empresário, caso haja interesse em continuar no mercado halal.
“Existe toda essa preocupação com o meio ambiente, com a sociedade. O produto precisa ser sustentável num todo. O halal está muito ligado a questões ESG [sigla em inglês para as palavras governança ambiental, social e corporativa]. Até muito por isso que hoje a certificação halal, principalmente para países maduros como Europa, é vista como uma certificação de qualidade e de segurança alimentar”, afirma Fernanda.
Custo de produção
A analista da ApexBrasil Deborah Rossoni diz que o custo do certificado halal muda de acordo com a cadeia de produção de cada empresa, mas que o preço médio pode chegar a R$ 24.000. O custo de implementação de uma cadeia de produção halal também varia em cada empresa e do seu propósito.
“O empresário vai ter que fazer adequações em sua produção, como comprar uma máquina, mudar a estrutura da sua produção para atender os requisitos halal, às vezes vai ter que mudar ingredientes dos seus produtos, vai ter que fazer um novo estudo, às vezes é necessário alterar a embalagem. Ele [empresário] tem que ter consciência de que vai ter que fazer alguns investimentos para começar”, disse Deborah.
De acordo com a Fernanda Dantas, a variação de custos está relacionada a diversos fatores, como o tipo de empresa, o tipo de produto, quantas etapas de produção. O valor do investimento também varia de acordo com a quantidade de ingredientes utilizados no processo, já que toda a cadeia de produção e os fornecedores também são rastreados.
A empresa Mel Barrufi, por exemplo, investiu R$ 2,5 milhões para transformar toda a sua planta industrial em halal. A previsão de retorno do investimento é de 8 a 9 anos. A marca de mel é associada ao projeto Halal do Brasil. Toda a sua produção tem certificado halal.
“Nesta 1ª certificação, não precisa certificar todos os produtos. O empresário pode certificar, por exemplo, só 3 produtos da linha. Depois, futuramente, ao ter a fábrica habilitada, incluir novos produtos na certificação é algo mais simples e mais barato”, afirma Fernanda.
Mercado halal
As exportações de alimentos brasileiros para países mulçumanos totalizaram US$ 23 bilhões em 2023. De acordo com a ApexBrasil, o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de proteína halal.
A Arábia Saudita é o país que mais importou alimentos do Brasil no ano passado. Dados da ApexBrasil mostram que 11% das importações do país são de produtos brasileiros.
O dado inclui produtos halal e não halal. Como a maioria da população dos países considerados é islâmica, deduz-se que os produtos importados são halal, segundo a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
“Não existe uma mensuração na exportação de nada que diferencie o que é halal e o que não é. A gente não consegue medir esse número. A gente consegue medir o que foi importado de alimentos e bebidas para países islâmicos”, disse Fernanda.