Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) -A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta quinta-feira o uso da vacina da Pfizer (NYSE:PFE) contra Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, mas ainda não há previsão para que o imunizante comece a ser usado nessa faixa etária, uma vez que o Ministério da Saúde ainda não adquiriu doses pediátricas da vacina.
O órgão regulador afirmou que os benefícios superam em muito os eventuais riscos da vacina, destacando a segurança do imunizante, a proteção para as crianças e o aumento da base de vacinados. Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu de imediato sobre a incorporação da vacina pediátrica no cronograma de imunização.
Em apresentação, o gerente-geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, defendeu o uso da vacina.
"Com base na totalidade das evidências científicas disponíveis, a vacina Pfizer-BioNTech Covid-19, quando administrada no esquema de 2 doses em crianças de 5 a 11 anos de idade, pode ser eficaz na prevenção de doenças graves, potencialmente fatais ou condições que podem ser causadas pelo SARS-CoV-2", informou.
A diretora da Anvisa Meiruze Sousa Freitas sugeriu uma série de medidas para o uso da vacina nas crianças. Segundo ela, o ideal é que a aplicação ocorra em ambiente segregado de adultos, evitando a modalidade "drive-thru" e dar um intervalo de pelo menos 15 dias em relação a outras vacinas do calendário.
No caso de uso em aldeias indígenas, a diretora defendeu que a aplicação em crianças seja feita em dia separado e que não coincida com adultos.
A vacina pediátrica da Pfizer tem um terço do princípio ativo da usada em adolescentes acima de 12 anos e adultos e será aplicada em duas doses com intervalo de 21 dias. Entretanto, não se pode diluir para essa concentração a vacina de adulto e ministrar em crianças.
O frasco do imunizante pediátrico tem coloração diferente, laranja, a fim de fazer uma identificação. O frasco para o público acima de 12 anos é roxo.
“A cada avanço na vacinação em uma nova faixa etária temos o sentimento de esperança renovado, a vacinação das crianças tem sido muito aguardada pelos pais. Recebemos com entusiasmo mais essa autorização da Anvisa para a vacina ComiRNAty e, com ela, a possibilidade de ampliar o combate à pandemia no Brasil”, disse a diretora médica da Pfizer Brasil, Márjori Dulcine, em comunicado.
O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, manifestou apoio à decisão da Anvisa e destacou que o imunizante já foi aprovado para essa faixa etária pela agência europeia EMA e pela agência norte-americana FDA.
"Tendo em vista que para dar início à vacinação nesta faixa etária será necessária formulação específica desta vacina com um terço da fórmula 'padrão' (10 microgramas por dose), o Conass aguarda posicionamento do Ministério da Saúde quanto à sua aquisição, o que é de sua competência", disse em nota.
"VIOLÊNCIA ANTIVACINA"
A conclusão da análise pela Anvisa ocorreu após a desenvolvedora Pfizer ter enviado dados complementares à agência. A análise foi feita pelo corpo técnico da Anvisa e também contou com a participação de representantes de sociedades médicas brasileiras.
Em fevereiro, a Pfizer foi a primeira farmacêutica a garantir registro definitivo para a vacina contra Covid-19 no Brasil, mesmo que na época o governo brasileiro ainda não tivesse acordo para compra do imunizante. Essa vacina, no momento, é uma das principais em uso no Brasil.
Em junho, a Anvisa havia autorizado o uso da Pfizer para crianças com mais de 12 anos.
A Anvisa recebeu também um pedido de avaliação pelo Instituto Butantan para uso da vacina CoronaVac para crianças de 3 a 11 anos.
Em uma espécie de desagravo da agência, o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, criticou o que chama de "violência antivacina" crescente e os ataques que o órgão vem sofrendo. Ressalvou que o Ministério da Saúde é "soberano" para decidir se vai incorporar a vacina da Pfizer para crianças.
"Não é a autorização da Anvisa, o atesto, que coloca vacina no braço de ninguém", disse. "Nossa análise dá a oportunidade para que o gestor nacional tome a sua decisão", reforçou.
Torres destacou que a pandemia não acabou, mas trabalha para evitar que no país ocorra cenas de superlotação de hospitais como vem ocorrendo na Europa em razão da variante Ômicron.
(Edição de Pedro Fonseca)