Por Hamid Ould Ahmed e Ulf Laessing
ARGEL (Reuters) - Dias antes de o mês de jejum do Ramadã começar, o mundo islâmico está enfrentando um paradoxo inoportuno da pandemia do novo coronavírus: a separação forçada em uma época na qual a socialização é quase sagrada.
O mês mais sagrado do calendário islâmico é de família e proximidade, comunidade, reflexão, caridade e oração.
Mas as mesquitas fechadas, os toques de recolher e as proibições a orações em massa, que se veem do Senegal ao sudeste da Ásia, estão obrigando cerca de 1,8 bilhão de muçulmanos a encararem um Ramadã como nunca se viu.
Em todo o mundo muçulmano, a pandemia cria novos patamares de apreensão antes mesmo de o Ramadã começar na quinta-feira ou em torno desta data.
Em Argel, Yamine Hermache, de 67 anos, normalmente oferece chá e bebidas geladas a parentes e vizinhos em casa durante o mês em que os muçulmanos jejuam do amanhecer ao entardecer – mas neste ano ela teme que será diferente.
"Podemos não visitá-los, e eles não virão", disse ela em prantos. "O coronavírus deixou todos com medo."
Seu marido, Mohamed Djemoudi, de 73 anos, tem outro temor.
"Não consigo imaginar o Ramadã sem tarawih", disse ele, referindo-se às preces adicionais realizadas nas mesquitas após o iftar, a refeição noturna com que os muçulmanos rompem o jejum.
Na Argélia como um todo, os donos de restaurantes se perguntam como oferecer iftar aos necessitados se seus estabelecimentos estão fechados, e instituições de caridade de Abu Dhabi que oferecem iftar a trabalhadores asiáticos de salários baixos não sabem o que fazer agora que as mesquitas estão interditadas.