Por Kate Kelland
LONDRES (Reuters) - Milhões de mulheres e crianças de países pobres estão em risco porque a pandemia de Covid-19 está prejudicando os serviços de saúde de que dependem, dos cuidados pré e pós-natais às imunizações e aos métodos contraceptivos, alertou uma especialista de saúde global do Banco Mundial.
Monique Vledder, chefe do secretariado da Linha de Financiamento Global do banco (GFF), disse à Reuters em uma entrevista que a agência está gravemente preocupada com o número de crianças que estão perdendo vacinações e de mulheres dando à luz sem ajuda médica e com a interrupção dos suprimentos de remédios que salvam vidas, como antibióticos.
"Estamos muito preocupados com o que está acontecendo, particularmente na África subsaariana", disse Vledder ao apresentar os resultados de um levantamento da GFF, um dos primeiros que procurou avaliar o impacto da Covid-19 na saúde de mulheres e crianças.
"Muitos dos países em que trabalhamos são frágeis, e por isso, por definição, já têm situações muito desafiadores quando se trata de proporcionar serviços de saúde. Isto está piorando as coisas."
A partir do final de março, a GFF passou a realizar levantamentos mensais com autoridades locais de 36 países para monitorar o impacto da Covid-19 em serviços de saúde essenciais para mulheres, crianças e adolescentes.
Ao compartilhar as conclusões dos levantamentos com a Reuters, a GFF disse que, das nações que deram informações, 87% disseram que a pandemia, o temor de infecções ou as medidas de isolamento concebidas para conter a disseminação do coronavírus prejudicaram a mão de obra de profissionais de saúde.
Mais de três quartos dos países também relataram transtornos nos suprimentos de remédios cruciais para mães e bebês, como antibióticos para tratar infecções e ocitocina, um medicamento para evitar sangramento excessivo após o parto.
O número de nações da GFF que relataram transtornos nos serviços quase dobrou das 10 de abril para as 19 de junho, e o número das que relataram uma diminuição de pessoas buscando serviços de saúde essenciais saltou de 5 em abril para 22 em junho.
O declínio acelerado do acesso a suprimentos de saúde reprodutiva também é uma grande preocupação, acrescentou Vledder. A GFF estima que, se a situação não melhorar, até 26 milhões de mulheres podem perder o acesso a métodos contraceptivos nos 36 países, o que provocaria quase 8 milhões de gestações indesejadas.