Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - O Banco Central divulgou na manhã desta terça-feira, 13, a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu pela manutenção da taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, em 13,75%. Os impactos do estímulo por meio de gasto público para a convergência da inflação à meta foram reforçados no documento. Segundo economistas, a expectativa consensual de redução nos juros pode ser alterada conforme aumentam os riscos fiscais.
De acordo com o documento, o ambiente externo continua adverso e volátil, diante das projeções de crescimento global abaixo do potencial no próximo ano, assim como o cenário inflacionário segue desafiador. O Copom continua atento à política monetária mundo afora em busca da redução da inflação por um período mais prolongado.
As projeções de inflação do Copom são de 6,0% para 2022, 5,0% para 2023 e 3,0% para 2024. Já as estimativas de inflação de preços administrados são de -3,6% para 2022, 9,1% para 2023 e 4,2% para 2024. “O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários. Nesse horizonte, referente ao segundo trimestre de 2024, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,3%”, indica o Copom, que avalia se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente prolongado deve ser o suficiente para fazer com que a inflação possa convergir novamente à meta.
Ainda conforme o documento, dados como o recuo na confiança e a desaceleração em concessões de crédito, reforçam a projeção de desaceleração na atividade econômica brasileira, o que “deve se acentuar nos próximos trimestres”.
Além disso, a ata reforça a incerteza sobre o cenário fiscal, apontando para serenidade na avaliação de riscos. “O Comitê reforça que seguirá acompanhando os desenvolvimentos futuros da política fiscal e seus potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, detalha o documento.
Segundo a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, a autoridade monetária indicou os riscos sobre a expansão fiscal. "Recado claro na ata do Copom sobre as propostas de expansão fiscal nesse momento da economia (quase pleno emprego e inflação ainda acima da meta), e sem antes discutir âncoras fiscais que tragam previsibilidade e reduzam o risco da dívida pública", destacou no Twitter.
Para Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG (BVMF:BPAC11), caso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição for aprovada com espaço de R$ 200 bilhões para despesas extras no próximo ano, haveria um risco muito grande de que o Banco Central não possa reduzir os juros no ano que vem. “Se quiser o benefício da dúvida do mercado e consolidar o cenário de redução de taxa de juros no próximo ano pelo BACEN, acho que o governo deveria reduzir o tamanho da PEC da transição e definir fonte de financiamento para não termos um déficit primário tão elevado, que teria impacto indesejado no crescimento da dívida e no aumento dos riscos fiscais”, disse para sua rede no Linkedin.
Para a Ativa Investimentos, o Copom indicou, conforme esperado, que o estímulo fiscal significativo deve ter maiores efeitos negativos sobre a inflação do que os pretendidos positivos sobre a atividade. “Sendo assim, aguardaremos o texto consolidado da PEC fura-teto para mensurar o quanto precisaremos elevar nossa perspectiva de juro para o final de 2023, que atualmente ainda está em 10,25%”, afirma o economista-chefe Étore Sanchez.
Segundo relatório da XP Investimentos (BVMF:XPBR31), a ata traz mais elementos hawkish na comparação com o comunicado da semana passada e reforça o entendimento de que o aumento do risco fiscal pode comprometer a convergência da inflação no médio prazo. "Por enquanto, não vemos a taxa Selic se movimentando tão cedo. Esperamos que a taxa Selic permaneça em 13,75% até o 1T24", diz Tatiana Nogueira, economista da XP.