Arena do Pavini - Governos com dívidas externas de prazo médio e fraca disponibilidade de reservas são geralmente os mais expostos a um aumento maior do que o esperado nos custos de empréstimos, afirmou hoje a Moody’s Investors Service, que fez um estudo do impacto de uma alta mais forte dos juros nos Estados Unidos sobre os países emergentes. A hipótese central da Moody’s é que o aperto antecipado no mercado global das condições de financiamento será gradual. No entanto, as condições de financiamento poderiam piorar mais rapidamente do que a Moody’s atualmente assume, seja globalmente ou para países específicos.
Em um estudo de 125 países acompanhados pela agência, a Moody’s analisou a sensibilidade das condições fiscais dos governos a dois hipotéticos choques de juros, um moderado e gradual e outro severa e mais imediato. Ambos os choques são considerados possíveis em quatro anos.
A Moody’s concluiu que um choque moderado seria geralmente administrável, com impacto limitado no acesso dos países à emissão de dívida soberana e sobre os encargos da dívida, mas com efeitos diferentes nos países que já exibem uma situação fiscal mais fraca. Um choque mais severo, porém, levaria a um conjunto mais amplo de reclassificações de risco.
Líbano, Egito e Paquistão entre os mais expostos
“Os países mais vulneráveis a um choque de taxa de juros são geralmente os de baixa classificação de risco, com prazos mais curtos e baixa capacidade de pagamento “, diz Elisa Parisi-Capone, vice-presidente da Moody’s, analista sênior e co-autor do relatório. “Em nossa opinião, a exposição a uma mudança nas condições de financiamento é mais alta para o Líbano (nota de crédito B3 estável), Egito (B3 estável), Paquistão (B3 estável), Bahrein (B1 negativo) e Mongólia (B3 estável). Sri Lanka (B1 negativo) e Jordânia (B1 estável) também são altamente expostos. ”
América Latina, Caribe e África
Por região, América Latina, Caribe e África Subsaariana África são as regiões mais expostas a choques por conta da baixa capacidade de pagamento. Para a África Subsariana, um aumento súbito e acentuado do custo dos empréstimos externos aumentaria as pressões de refinanciamento antes do vencimento da grande dívida no início da próxima década.
Argentina não está entre os mais expostos
Grandes emergentes, como Argentina ou Indonésia, não estão entre os países mais expostos ao impacto nas contas públicas provocadas por um aperto nas condições de financiamento, geralmente porque se beneficiam de um prazo médio da dívida pública que reduz o impacto de um aumento acentuado das taxas de juros.
Embora o endividamento dos países tenha se estabilizado de maneira geral, ele ainda é muito maior do que
no início do ciclo anterior de aperto global dos juros, de 2004 a 2006, reduzindo a flexibilidade fiscal em face de um potencial choque financeiro, diz a Moody’s.
Vários países, – em particular países de baixa renda – têm encargos da dívida relativamente elevados, receitas de exportações corroídas após a queda dos preços das commodities e uma capacidade não testada de refinanciar seus títulos em um ambiente de condições de financiamento mais apertadas, observa a agência de risco.
Custo maior de 3%
Em média, para os 30 soberanos mais expostos, os pagamentos de juros poderiam custar um adicional de 3% de suas receitas até 2021 considerando um choque moderado, comparado com nenhuma mudança no cenário base da agência . Com as possíveis exceções de países que já têm uma situação fiscal muito delicada, as classificações atuais de risco da Moody’s já são consistentes com esse aumento de custo.
No caso de um choque severo, porém, todas as dívidas dos mercados emergentes e de países menos desenvolvidos teriam impactos fiscais negativos. Sem uma política que responda à erosão fiscal, essas mudanças prejudicariam as classificações de risco, mesmo para os países que a Moody’s já avalia como tendo menor equilíbrio nas contas públicas.
Câmbio também terá impacto
Além das altas taxas de juros, o aperto das condições de financiamento também envolvem o enfraquecimento das taxas de câmbio nos países que têm mercados de moedas flutuantes. A desvalorização exacerbaria o impacto negativo do choque sobre as contas públicas por meio de um maior peso da dívida em moeda estrangeira.
Em países com taxas de câmbio administrado, os bancos centrais têm flexibilidade muito limitada para compensar as condições de financiamento em meio a um choque global, avalia a Moody’s. Se os bancos centrais precisarem segurar a taxa de câmbio para preservar o regime cambial, os colchões de reservas podem ser consumidos e a vulnerabilidade externa aumentaria.
Por Arena do Pavini