Por Marcela Ayres e Jamie McGeever
BRASÍLIA (Reuters) - O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, afirmou nesta quarta-feira que vê o recente movimento do dólar frente ao real com "bastante tranquilidade", e reforçou que esse conforto é um reflexo tanto da política cambial do Banco Central como do ajuste fiscal promovido pelo governo.
Em entrevista à Reuters, o secretário pontuou ter recebido retorno positivo de investidores estrangeiros em viagem recente a Nova York, nos Estados Unidos, sobre o rumo das políticas adotadas até aqui pela equipe econômica.
"Nosso câmbio é flexível, as atuações do Banco Central em grande medida se referem à redução de volatilidade. Eles não buscam determinar nível, mas sim redução de volatilidade", afirmou.
"Então é um conforto pela sistemática, a política de câmbio que temos, pela equipe (do BC) e pelas respostas que têm sido dadas, já nos colocam com tranquilidade", completou.
O dólar renovou seu recorde nominal histórico nesta quarta-feira, perto de 4,26 reais, mesmo depois de o BC ter feito nova oferta líquida de moeda à vista, a terceira em dois dias.
O mercado tem atribuído parte do movimento de desvalorização cambial desta semana a declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o câmbio de equilíbrio do país "tende a ir para um lugar mais alto" diante da redução da taxa básica de juros.
Waldery defendeu que o governo está atacando de frente o maior problema brasileiro, que é relacionado ao desequilíbrio fiscal, mirando medidas para o controle das despesas públicas. E destacou que os investidores estão atentos a isso.
"Essas decisões coerentes com um diagnóstico traçado de quais são os pontos fracos, os gargalos das nossas políticas econômicas, em particular a necessidade de robustecer a política fiscal, levam a uma posição macroeconômica, macrofiscal na realidade, que nos dá tranquilidade com relação a reações como um todo, tanto em percepção de risco como em termos de afetar o câmbio", disse.
Após uma maratona de reuniões com investidores em Nova York na semana passada, ele avaliou que há "posição de forte interesse".
"A percepção deles é 'vocês estão tratando o lado correto, que é o lado fiscal, é o que tem um desequilíbrio maior'", disse.
Nesta quarta-feira, analistas do Morgan Stanley (NYSE:MS) aconselharam clientes a evitar o mercado de moedas e juros da América Latina pelo resto do ano, citando riscos políticos crescentes e agitação social.
"O movimento recente de preços indica que há mais fraqueza por vir, principalmente se um sentimento mais amplo de mercado emergente azedar", disseram os analistas especificamente sobre o real brasileiro.
PECS NA METADE DE 2020
Apesar de o governo ter reconhecido que enviará apenas no ano que vem a reforma administrativa, inicialmente prometida para novembro, Waldery expressou otimismo quanto ao andamento das reformas no Congresso, citando a perspectiva de aprovação ainda no primeiro semestre de 2020 das três propostas de emenda à Constituição (PECs) que reformam o arcabouço fiscal brasileiro.
De acordo com Waldery, a PEC dos fundos públicos deverá ter sua apreciação finalizada pelo Senado ainda em 2019, e talvez pela Câmara dos Deputados antes do ano acabar. A proposta prevê a amortização da dívida pública da União com recursos de 220 bilhões de reais hoje parados nesses fundos.
Ele estimou que a PEC Emergencial --que prevê duras medidas de ajuste nas despesas quando as operações de crédito superarem as despesas de capital em um ano-- "certamente estará muito avançada para o começo do próximo ano".
Na visão do secretário, a PEC do Pacto Federativo, que é a mais densa das três medidas e que propõe uma ampla desvinculação de receitas e desindexação em caso de emergência fiscal, demorará um pouco mais, justamente pelo fato de ser mais complexa.