Por Jack Queen e Jacqueline Thomsen
MIAMI (Reuters) - O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou-se inocente nesta terça-feira das acusações criminais federais de que teria guardado ilegalmente documentos de segurança nacional quando deixou o cargo e mentido para autoridades que tentaram recuperá-los.
A declaração de Trump, apresentada ao juiz Jonathan Goodman em um tribunal federal em Miami, estabelece uma batalha legal que provavelmente acontecerá nos próximos meses, enquanto o republicano faz campanha para reconquistar a Presidência nas eleições de novembro de 2024. Especialistas dizem que pode levar um ano ou mais até que um julgamento ocorra.
Trump, vestindo um terno azul e gravata vermelha, franziu a testa e recostou-se na cadeira, mas não falou durante a audiência, que durou 47 minutos.
Ele foi autorizado a deixar o tribunal sem condicionantes ou restrições de viagem e nenhuma fiança em dinheiro foi exigida. Goodman determinou que Trump não tem permissão para se comunicar com possíveis testemunhas no caso.
O assessor de Trump Walt Nauta, que também é acusado no caso, compareceu ao tribunal ao lado de Trump, mas não terá que apresentar uma declaração até 27 de junho porque não tem um advogado local. Ele também foi liberado sem pagar fiança e recebeu ordem de não falar com outras testemunhas.
Os apoiadores entoavam "Nós amamos Trump" quando sua comitiva deixou o tribunal às 15h55 (16h55 no horário de Brasília), cerca de duas horas depois de chegar.
Esta foi a segunda ida de Trump a um tribunal nos últimos meses. Em abril, ele se declarou inocente das acusações estaduais em Nova York decorrentes do pagamento de um suborno a uma atriz pornô.
Trump é o primeiro ex-presidente dos EUA a ser acusado de crimes federais.
As autoridades se prepararam para possíveis episódios de violência, relembrando o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio, mas o prefeito de Miami, Francis Suarez, disse a repórteres que não houve nenhum problema de segurança.
Trump tem proclamado repetidamente sua inocência e acusou o governo do presidente democrata Joe Biden de tê-lo como alvo.
Durante uma parada no Versailles, um restaurante cubano, após a audiência, Trump disse a seus apoiadores que os Estados Unidos estavam "manipulados", "corruptos" e "em declínio".
"Temos um governo que está fora de controle", disse ele. A comunidade cubano-americana da Flórida é um bloco eleitoral republicano substancial no Estado.
Ele então voou de volta em seu jato particular para seu clube de golfe em Nova Jersey, onde deveria se dirigir aos apoiadores às 21h15 (no horário de Brasília).
O procurador especial Jack Smith acusa Trump de colocar em risco segredos nacionais ao levar milhares de documentos confidenciais com ele quando deixou a Casa Branca em janeiro de 2021, e armazená-los de maneira aleatória em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida, e em seu clube de golfe em Nova Jersey, de acordo com a acusação de um grande júri divulgada na semana passada.
Esses documentos incluíam informações sobre o programa nuclear dos EUA e possíveis vulnerabilidades no caso de um ataque, afirma a acusação.
O indiciamento com 37 acusações alega que Trump mentiu para funcionários do governo que tentaram recuperar os documentos.
A acusação também alega que Trump conspirou com Nauta para manter documentos sigilosos e escondê-los dos investigadores. Nauta trabalhou para Trump na Casa Branca e em Mar-a-Lago.
Os problemas legais de Trump não prejudicaram sua posição com os eleitores republicanos.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na segunda-feira mostrou que Trump ainda lidera os rivais para a indicação republicana para a eleição presidencial de 2024 por uma ampla margem, e 81% dos eleitores republicanos acreditam que as acusações têm motivação política.
(Reportagem adicional de Rami Ayyub, Sarah N. Lynch, Susan Heavey, Julia Harte, Tyler Clifford, Doina Chiacu e Luc Cohen)