DAVOS, Suíça (Reuters) - A Rússia está iniciando uma série de demissões em massa como resultado da crise na economia e da necessidade de repensar como e quão rápido o país consome suas reservas, afirmou o ex-ministro das Finanças Alexei Kudrin.
Kudrin renunciou ao cargo em 2011, em protesto contra o aumento de gastos no setor militar, mas acredita-se que ele ainda tem respeito e acesso ao presidente russo, Vladimir Putin.
O rublo perdeu metade do seu valor frente ao dólar desde o início do ano passado, como resultado da queda do preço do petróleo e sanções do Ocidente, ligadas à crise na Ucrânia, o que tornou muito difícil para o país conseguir dinheiro emprestado nos mercados de capital do Ocidente.
"Eu estava prevendo tempos difíceis, mas não esperava que fossem tão difíceis", afirmou Kudrin à Reuters durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.
"Os preços ao consumidor subiram muito. Grandes demissões começaram. O setor da construção de Moscou já demitiu 100 mil pessoas. Vemos sinais de crise na indústria automotiva. Haverá uma séria desaceleração no desenvolvimento de tecnologia ocidental", afirmou.
Ele disse que a economia vai encolher mais de 4 por cento este ano caso os preços do petróleo permaneçam muito baixos. A Rússia tem uma taxa de desemprego relativamente baixa, de 5 por cento.
Sob o comando de Kudrin, a Rússia acumulou mais de 500 bilhões de dólares em reservas, incluindo cerca de 160 bilhões em dois fundos de reserva que podem ser usados em tempos difíceis para proteger o rublo e a economia.
Nesta semana, o banco central russo afirmou que suas reservas em ouro e moeda estrangeira caíram abaixo dos 380 bilhões de dólares, pois o país continua protegendo o rublo e autoridades gastam dinheiro no auxílio a bancos e empresas.
Com o gasto social representando um terço do orçamento total e o militar correspondendo a 35 por cento, a Rússia pode acabar com seus dois fundos de reserva em 18 meses se os preços do petróleo continuarem no nível atual, de 50 dólares do barril.
Kudrin afirmou que a Rússia precisa urgentemente cortar gastos para assegurar que tenha fundos suficientes para proteger a economia por mais tempo.
"Se o petróleo continuar a 50 dólares, nosso fundo de reservas deve durar três anos, se passarmos a gastar menos e conduzir reformas", disse. Um programa maciço de militarização deve ser realizado em 15 anos, não em 10, o que também economizaria dinheiro, acrescentou.
Alguns políticos e empresários europeus pediram nas últimas semanas por uma reaproximação com a Rússia e o abrandamento das sanções. Mas Kudrin afirmou que a maioria dos investidores e opinião pública ocidentais ainda é contra essa ideia, o que torna o fim das sanções uma medida improvável.